Esse post, se soubessemos das notícias antes (isto é, se elas fossem anunciadas antes), poderia muito bem ter sido incluso na nossa série "Desfazendo Mitos", mais especificamente na
Parte 1 que é a que fala sobre as modificações que aconteceram nos regulamentos ao lonho da história da F-1.O objetivo, então, era mostrar que a memória nos trai pois ela costuma somente se apegar ao que é recente, esquecendo-se da história, muitas vezes (a política é o melhor exemplo disso). Na Fórmula 1 não foi diferente: desde 2003, ouviu-se muito a estória de que as mudanças foram para impedir que Schumacher fosse campeão novamente, ou ainda "para dar mais graça ao campeonato". Além disso, dizia-se que foi "pela primeira vez..."
Naquele post, apontamos as 3 vezes (na verdade, 4, considerando que em 1960 foi abolido o potno da volta mais rápida e o sexto colocado passou a pontuar, mas só em 61 foi acrescido um ponto ao vencedor) ao longo de mais de meio século em que houve alguma alteração significativa na pontuação ou no sistema de treinos, além de alguma mudança que interferisse diretamente nos carros - potência dos motores, especificações eletrônicas, abastecimento, trocas de pneus, etc.
Portanto, vamos relembrar essas mudanças:
Pontuação
1960 - De 1950 até 1959, pontuava-se do 1º ao 5º colocado (8, 6, 4, 3, 2), sendo acrescida a pontuação da volta mais rápida; Nesse ano, foi abolido o ponto da melhor volta, e o sexto colocado passou a pontuar.
1961 - Aqui entrou o vigor o sistema de pontos mais longínquo da história da F-1: 9, 6, 4, 3, 2, 1 pontos, do primeiro ao sexto colocados.
1991 - Após 30 temporadas seguidas com o sistema implantado em 1961, e 41 com descartes - desde o início, em 1950, eram realizados descartes dos piores resultados, seguindo a fórmula "n/2 + 3", em que N é o número de corridas no ano - foi acrescido um ponto ao vencedor (10, 6, 4, 3, 2, 1) e aboliu-se os descartes.
2003 - Este é o sistema atual: cada piloto, do 2º ao 6º, passou a receber dois pontos a mais, e a zona de pontuação iria até o oitavo colocado: 10, 8, 6, 5, 4, 3, 2, 1, respectivamente.
Treinos
1991 - havia a pré-classificação, onde os 34 inscritos para o GP disputavam 26 vagas - os 8 piores resultados eram eliminados; além disso, era feito um somatório dos tempos da sexta e do sábado. Em 1991, foi implantado que a classificação ocorreria somente aos sábados, cabendo a cada piloto o limite de 4 voltas rápidas para definição da primeira posição.
2003 - foi modificado o sistema vigente desde 1991, ocorrendo que cada piloto teria direito a apenas uma volta lançada, e a ordem das tentativas de cada um seria decidida de acordo com a posição ao final da corrida anterior, invertida: o último faria a primeira volta, o penúltimo seria o segundo, etc. Esse sistema valeu até o fim de 2005 (com variantes).
(até aqui, como vimos, foram duas mudanças de pontuação na época do domínio de Jack Brabham; uma mudança de treino e outro de pontuação no período do auge de Senna; e uma de treino e outra de pontuação, na era dominada por Schumacher).
Mas o que nos leva a publicar uma matéria com esse conteúdo não é mais desfazer esse mito (ele ainda existe?), e sim questionar/comentar/debater a nova mudança de regulamento que está sendo prevista para o ano que vem.
Fórmula Olímpica
Bernie megalomaníaco Ecclestone, insatisfeito com a falta de busca por vitórias, quer agora uma nova mudança na
pontuação: aliás, ele quer extingui-la. Ao invés do sistema em vigor desde 2003, Ecclestone quer agora que os três primeiros colocados recebam medalhas, de ouro, prata e bronze.
Bernie, porém, não quer o "modo CNN" de classificação (na última Olímpiada, a emissora de TV Americana insitia em colocar os EUA em primeiro, baseando-se no número total de medalhas, em detrimento da maior quantidade de ouros consquistadas pela China, que citada como líder no resto do mundo).
Para ele, o campeão seria conhecido pelo maior número de vitórias (medalhas de ouro); havendo empate, valeria pelas de prata; persistindo, valendo o bronze. Em outras palavras: não haverá mais o famigerado "correr pelo campeonato". Palavras de Bernie: "dessa maneia, não veremos mais coisas como o GP do Brasil, onde Hamilton almejava um quinto lugar, e lutou somente por isso".
Fórmula Stock
A outra mudança prevista (sempre seguindo o pacote implementado em 1991 "alterar os pontos e treinos") se dá na classificação.
A proposta, porém, não vem de Tio Bernie, mas da associação de equipes (FOTA). Segundo nota do
http://www.grandepremio.com.br/, "
os carros entrariam na pista ao mesmo tempo e com a mesma quantidade de combustível, sendo que os mais lentos seriam eliminados depois de cada volta.Após 14 giros, os seis pilotos mais rápidos lutariam pela pole-position, com pneus novos, mas usando a mesma quantidade de gasolina. Além disso, o pole ganharia um ponto no campeonato, além de uma premiação em dinheiro".
Basicamente, os carros ficariam enfileirados correndo como se estivessem em ritmo de corrida. Considerando que todos deverão entrar na pista com a mesma quantidade de gasolina, me parece absolutamente claro que a chance de termos Ferraris e Mclarens nas primeiras filas é maior do que no sistema atual. A surpresa poderá pintar com os dois carros "estranhos" que se classificarem entre os seis. Por outro lado, os líderes parariam sempre mais cedo.
Vale à pena?
Considero que, tanto uma quanto a outra mudança propostas podem até ter lá seu lado comercial (e é só nisso que Bernie pensa), mas não representarão nenhuma melhora esportiva. Muito pelo contrário.
Sobre a questão de premiar os três primeiros com medalhas, é algo, a meu ver, injusto: olhando-se friamente, basta dizer que Nelson Piquet jamais teria sido campeão mundial, e Nigel Mansell seria tri!
Nos treinos, como foi dito, seria apenas um showzinho de TV, pois prejudicaria performances reais, uma vez que o ideal da pole sempre foi pista livre para se obter o tempo mais rápido. E o ponto que querem dar ao pole, como fazer, se só tem medalha?
E vocês, o que acham?