quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O Ano do calvário...

Para comemorar a passagem de ano, vamos lembrar daquela que foi a temporada que consagrou o talento e a genialidade de Ayrton Senna.
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Eu não sei ler japonês. Muito menos, como diria o grande compositor, poeta e filósofo Djavan, "japonês em braile". E acredito que muitos dos que freqüentam esse blog também não o saibam. Porém, todos nós conseguimos compreender a linguagem que está no desenho ao lado. Trata-se de uma publicação japonesa, no ano de 1993.
A Honda havia se retirado da Fórmula 1 ao final de 1992 (já vimos esse filme, não?) e, assim, a McLaren, que usava os propulsores desde 1988, e Senna, que vinha trabalhando com os japoneses desde 1987, teriam de usar novos motores. O "escolhido" foi o Ford.
Porém, havia um pequeno problema: a Benetton usava esses motores desde 1987, e já era sócia da empresa. A McLaren acabou optando pelos motores da empresa somente no início do ano. Assim, ficou com a “versão cliente”, que tinha por volta de 30 cavalos a menos que a “versão sócia” usada pela equipe italiana. E aí a menção da figura da cruz na charge do jornal: Senna teria de guiar uma verdadeira carroça.
Mesmo assim, o braço de Senna fez toda a diferença. Nas primeiras 6 corridas, ele venceu três e tirou duas em segundo. Por quase três meses, liderou um campeonato que, desde o início, tinha as cartas marcadas para uma vitória folgada de Alain Prost e da Williams. Senna surpreendia a tudo e a todos.
Sua vitória no Grande Prêmio da Europa, em Donington Park, é até hoje lembrada como a mais fantástica de sua carreira, e muito provavelmente a exibição mais extraordinária de um piloto na Fórmula 1. A primeira volta, em que sai do 5º para o primeiro lugar, superando carros demasiadamente superiores ao seu - com a exceção da Sauber de Wendlinger - ocupa lugar especial no coração de fãs, críticos, e pilotos de todas as épocas.


Porém, Ayrton teve duas outras exibições tão galantes quanto à de Donington mas que, talvez porque não tivesse vencido, são pouco lembradas.
A primeira dessas corridas notórias de Senna foi o Grande Prêmio do Canadá, quando conseguiu apenas a 8ª colocação no grid. Porém, logo na largada tratou de pôr as coisas em ordem: naquela primeira volta, passou três pilotos; na segunda, mais dois, e voltas mais tarde superaria também Damon Hill. O show valeu: a ultrapassagem sobre Jean Alesi foi descrita por Murray Walker como sendo “sem dúvida, a melhor manobra do ano”.


Já na metade da corrida, com um ótimo segundo lugar, seu excelente carro quebrou.
Mas talvez a cena mais emblemática daquela temporada foi o GP da Inglaterra. Ali o talento de Senna esteve, como se diz, "solar". Ayrton largou em 4º, e passou Schumacher e Prost. Passadas algumas curvas, a diferença de carro começou a aparecer, e o francês foi o primeiro a pressionar Senna. Ayrton o segurou o quanto pôde. Essa briga durou seis voltas. Somente ao final da sétima é que Prost ultrapassou Senna. Depois, foi a vez de Schumacher tentar passar Senna de todas as maneiras. Acabou conseguindo duas voltas mais tarde, curiosamente (ou não) no mesmo lugar em que o Williams superara o McLaren, um ponto de grande aceleração – onde é imprescindível motor mais forte...
Reparem em aproximadamente 1min45 de vídeo, final da primeira volta, Senna entrando de lado na curva, e tendo de segurar o carro, o mesmo acontece ao final da segunda (2min52).


Ayrton estava em terceiro lugar quando, na última volta, sofreu uma pane seca no maravilhoso carro.
No apagar da vela de 1993, Senna marcou uma pole – assim como em 1992, o único piloto fora da Williams –, e venceu 5 GPs. Terminou o campeonato como vice-campeão do mundo, com 73 pontos, 4 a frente da Williams de Damon Hill. Apenas para constar: o companheiro de equipe de Senna, Michael Andretti, que veio para a F1 como campeão da Fórmula Indy em 92, marcou 7 – sete! – pontos.
A melhor definição sobre como foi aquela temporada e o desempenho de Senna foi dada por Jo Ramirez: “Quando tivemos o motor Ford, creio ter sido o melhor ano da carreira dele, mesmo não tendo sido campeão, pois ele realmente mostrou ao mundo o que podia fazer, vencendo carros muito mais potentes e competitivos que o nosso”. Quem ainda não sabia do que Senna era capaz, ficou sabendo naquele ano.
Ao final do ano, Senna testaria os motores Lamborghini (ver foto ao lado), mas a McLaren ficou com os Peugeot. Com o Ford é que não dava p'ra ficar. Ainda mais porque Senna estava de mudança para a Williams...
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Um ótimo 2009 a todos.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Do baú... - Parte 2

*Adelaide/90. Scaneado da revista Grid, em edição de 1994, post-mortem de Senna.

Essa pérola foi tirada antes do Grande Prêmio da Austrália de 1990, etapa que encerrava a temporada daquele ano, corrida que Piquet venceu e que sagrou o segundo título de Senna. Creio que essa seja a maior reunião de títulos mundiais já feita numa foto. São nada menos que 19 campeonatos de Fórmula 1.

Em pé: James Hunt (1976), Jackie Stewart (1969-71-73) e Denny Hulme (1967). Sentados: Nelson Piquet (1981-83-87), Juan Manuel Fangio (1951-54-55-56-57), Ayrton Senna (1988-90-91) e Jack Brabham (1959-60-66).

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

As 99 vitórias brasileiras na Fórmula 1...

Um fato que passou despercebido, ao final da temporada de 2008, foi que em Interlagos Felipe Massa obteve a vitória de número 99 para o Brasil: Ayrton Senna ganhou 41, Nelson Piquet, 23, Emerson Fittipaldi, 14, Felipe Massa, 11, Rubens Barrichello, 9 e José Carlos Pace, 1.
Logo, é motivo de comemoração, dada a iminência da centésima vitória em 2009 - muito provavelmente com o próprio Felipe.
Apenas dois países, Alemanha e Inglaterra, chegaram a essa marca: os alemães, impulsionados por Michael Schumacher, possuem 104 vitórias: 91 de Michael, 6 de Ralf Schumacher, 3 de Heinz-Harald Frentzen, 2 de Wolfgang Von Trips, 1 de Sebastian Vettel e outra de Jochen Mass.
Por outro lado, os ingleses são os grandes recordistas, com 130 triunfos, sendo Mansell o maior vencedor, com 31; Em seguida, aparecem Damon Hill, 22, Stirling Moss, 16, Graham Hill, 14, James Hunt, 10, Lewis Hamilton, 9, John Surtees e Tony Brooks, ambos com 6, John Watson, com 5, Peter Colins, Johnny Herbert e Mike Hawthorn, três cada e, por fim, Jenson Button e Innes Ireland, com uma cada.
(em algumas fontes inglesas, é normal ver menção/comemoração a 199 vitórias, dada a inclusão das 25 de Jim Clark, das 27 de Jackie Stewart, e mais as 13 de David Coulthard, pilotos escoceses, além das 4 do norte-irlandês Eddie Irvine - que, nesses casos, são provinientemente chamados de "britânicos" -, mas na Copa do Mundo, a Escócia é uma seleção à parte.)
Assim, sabendo da importância dessa marca, o site Última Volta deu início ao especial "As 99 vitórias do Brasil na Fórmula 1", no qual serão publicados, diariamente, relatos e/ou depoimentos sobre cada uma das 99 vitórias.
A primeira delas, em Watkins Glen, GP dos EUA-70, teve uma entrevista exclusiva com o grande precursor do Brasil na F-1, Emerson Fittipaldi. Marcel Pilatti, um dos autores desse blog, relatou a 3ª vitória de Emerson, no GP da Bélgica, em 1972.
Hoje, podemos conferir mais uma corrida narrada pelo excepcional Márcio Madeira da Cunha, Áustria/1972, e nessa terça-feira, teremos o depoimento do "Barão" Wilson Fittipaldi, pai de Emerson e Wilson Jr., e narrador da grande corrida de Monza/1972, que garantiu o primeiro título do Brasil na F-1.
Não deixem de conferir.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Sobre Publicações Alheias - Parte 2

Na última sexta-feira, um dos moderadores deste blog foi citado na "Coluna Warm Up", do jornalista Flavio Gomes. A referida matéria foi reproduzida nos jornais "Lance!" e "O Estado do Paraná", além dos sites da ESPN Brasil e no famoso Grande Prêmio.
O tema foi um assunto que abordamos e discutimos muito no nosso F1 Critics: o polêmico sistema das medalhas de Bernie Ecclestone, digo, "Zé das Medalhas".
O que acharam da matéria?

"Ouro, ouro, ouro..."

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Do baú...

Essas duas fotos foram importadas do blog do Pandini. Espero que ele não fique chateado, mas são duas imagens sensacionais que encontrei lá, e merecem ser divididas com os leitores (who?) do F1 Critics:

1) Silverstone, 1983

crédito: acervo particular Darcio dos Santos
Essa foto merecia ser postada pelo simples fato de reunir Nelson Piquet e Ayrton Senna: Piquet é o segundo, e Senna o quarto, ambos em pé, olhando-se da esquerda para a direita. Quando ela foi tirada, Ayrton estava caminhando a passos largos para ser campeão de Fórmula 3 (e se tornar o maior vencedor das "categorias de acesso à F-1" de sempre) com vários recordes, enquanto que Nelson Piquet rumava ao seu fantástico bicampeonato na Fórmula 1, lutando contra carros melhores que o seu Brabham - a equipe de Nelson foi apenas a terceira colocada no mundial de construtores.
Mas além dos dois, trata-se de uma foto histórica pois reúne mais alguns personagens importantes do nosso automobilismo: o mais conhecido Raul Boesel, último em pé, à direita, que nesse ano disputava sua segunda temporada na F-1. Além dele, temos ali: Oswaldo dos Santos (ao lado de Senna), que foi vice da F-VW brasileira e disputou F-Ford inglesa, Maurizio Sala (o primeiro, agachado), que foi grande rival de Senna em algumas categorias de base, e campeão de F-Ford, o próprio Darcio Santos (entre Senna e Piquet), corredor de Kart e vencedor de várias outras categorias por aqui, e José Carlos Romano (o segundo agachado), que corria na F-2 do Brasil. Ah, e o Paulinho, primeiro à esquerda, amigo dos pilotos, apenas.
Momento raro, e histórico.

2) Mille Miglia, 1950

crédito: Alberto Sorlini, no livro "Tazio Vivo"

Foto tirada antes das Mil Milhas, de 1950, reúne, a exemplo da primeira foto, dois dos maiores pilotos da história do automobilismo: Juan Manuel Fangio e Tazio Nuvolari. Mas, diferentemente de Senna e Piquet, Fangio e Nuvolari não eram contemporâneos muito menos conterrâneos´, tampouco a época em que corriam tinha apêlo midiático - claro que a primeira foto, em si, não é "de mídia", mas me refiro às possibilidades de realizações dos encontros.
Nuvolari representa, para muitos, talvez o piloto mais sensacional da história: correu quando não havia um campeonato mundial organizado, mas sim Grandes Prêmios que aconteciam com uma certa regularidade. Nuvolari, menos pelas vitórias e mais pelas façanhas, é considerado um verdadeiro gênio das pistas. Tinha 58 anos nessa foto, e foi sua última corrida - com seu companheiro, foi quinto colocado no geral.
Fangio, na opinião de muitos foi o melhor, também. Suas incríveis conquistas na Fórmula 1 o colocam nesse patamar: além de ser o segundo piloto com o maior número de títulos, tendo sido recordista por quase cinqüenta anos, possui o melhor aproveitamento em TODOS os quesitos: pontos, pódios, vitórias, poles, melhores voltas, títulos, enfim... Nessa corrida, ele foi o terceiro classificado, junto ao seu parceiro de prova.
Como disse o Panda, "este homem [Alberto Sorlini] já mereceria uma estátua pelo simples fato de ter feito a foto acima".

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Desafio das Estrelas (ou Desfazendo Mitos - Parte 4)

Rubens Barrichello foi o grande vencedor da corrida de kart promovida por Felipe Massa, em Florianópolis. Trata-se de um evento que está tornando-se cada vez mais importante no calendário automobilístico (brasileiro), uma vez que alguns dos principais pilotos da Fórmula 1 e de outras categorias comparecem.
Barrichello é notoriamente conhecido como um dos melhores kartistas da história, e permanece como um dos melhores do mundo até hoje. E isso pode/deve ser dito não apenas por essa vitória, mas por tudo que o piloto já realizou nessa categoria.
Porém, essa vitória não acresce nenhum significado à carreira da Barrichello no sentido de "provar" alguma coisa: não é por essa vitória que Barrichello mostrou que "merece a vaga na Honda", como ele mesmo falou ao final da primeira bateria, nem tampouco "deixa claro que só perdia pro Schumacher na Ferrari pelo contrato", como querem alguns.
Por outro lado, também foram extremistas os que, ano passado, usaram a vitória de Schumacher no mesmo desafio (e é importante lembrar que Rubens havia sido 3º, no geral; esse ano, Michael foi 8º) como "mais uma conclusão de que Schumy está acima dos demais". Foram diversas as celebrações, em 2007. "Schumacher regulou o carro melhor"; "Mesmo sem estar na F-1, ele ainda é o melhor"; "Os equipamentos são iguais, aí sobressai o braço", e por aí vai.
Mas o engraçado é que com a vitória de Barrichello e o desempenho no máximo bom de Schumacher, a corrida de Florianópolis perdeu o sentido, deixou de ser conclusiva: "Barrichello só ganha quando não vale nada"; "Schumacher veio passear"; "Schumacher só estava se divertindo", "deixou ele vencer" ou ainda "Barrichello foi sujo" e "O Kart do Schumacher era pior".
E é bom lembrar que Barrichello não apenas somou mais pontos nas duas corridas, como foi mais rápido que Schumacher nos dois treinos livres e na classificação, além de ter anotado a melhor volta da segunda bateria.
É o famoso ditado "dois pesos, duas medidas" [nesse caso, um peso]: sempre que um outro piloto - de preferência o fraco Rubens Barrichello - realiza algo superior a Schumacher, deve haver alguma razão, porque isso "jamais aconteceria".
Fato semelhante ocorreu no final do ano passado, também, quando Schumacher, após um ano de aposentadoria, realizou testes com a Ferrari, em Barcelona: o alemão terminou o dia na primeira colocação. Foi motivo de destaque em blogs e até mesmo na Rede Globo: "mesmo parado, Schumacher ainda é o mais rápido", ou ainda "se tivesse disputado o mundial desse ano, ganhava com certeza".
Espera aí: o Schumacher, com sua Ferrari, vai fazer testes aos quais não comparecem Fernando Alonso, Lewis Hamilton, e nem os pilotos oficiais do time [Massa e Raikkonen], termina em primeiro, e isso é prova de que ele teria sido campeão mundial? Não entendi.
E foi levantado também que dois pilotos haviam realizado o mesmo "feito" de Schumacher, muito antes, porém, ninguém os tratou como "campeões para sempre", aqueles que "basta entrar no carro, com a idade que for, que vence qualquer um".
- Mario Andretti deixara as pistas no final de 1981, GP dos EUA (última do ano). Em 1982 foi convidado para disputar o GP da Itália (penúltima corrida do ano) pela Ferrari. Cravou a pole.
- Alain Prost se retirou das corridas ao final da temporada de 1991, após o penúltimo GP. teve em 1992 um "ano sabático". Voltou em 1993. Cravou a pole no GP da África do Sul, abertura da temporada.
E, da mesma forma que Mario Andretti, campeão mundial de 1978, e Alain Prost, tetra-campeão mundial (1985/86/89/93), foram esnobados nesse caso, o mesmo acontece com Barrichello, agora.
Por quê?