domingo, 12 de outubro de 2008

Mais uma?!

Seu chefe de equipe é Flavio Briatore. Ele veio para essa equipe após anos conturbados, em que teve de lutar contra um piloto promissor inglês, numa equipe inglesa. Depois de vir para essa equipe, amargava um bom período ausente de vitórias, sendo inclusive "dado por vencido". Mas, na reta final da temporada, conquista duas vitórias espetaculares.

A descrição acima parece perfeitamente se encaixar com a situação de Fernando Alonso em 2008, certo? Mas eu estava falando de Nelson Piquet (o pai), em 1990.
Piquet, depois de uma saída conturbada da Williams, em 1987, teve de, literalmente, amargar o limbo na carroça da Lotus. Ao final do seu contrato, foi para a Benetton, e começou a se reerguer. No final da temporada de 1990, venceu dois GPs, exatamente os dois últimos, e a coincidência se mostra ainda maior porque Piquet vencera os GPs 15 e 16, exatamente a "ordem" das corridas vencidas por Fernando, que agora tem ainda outras duas etapas pela frente.
Mais uma coincidência se dá que Alonso, em Cingapura, foi o vencedor do GP de número 800 da Fórmula 1, ao passo que Piquet, na Austrália, havia vencido a 500ª corrida. As semelhanças entre as carreiras dos dois são enormes, e o estilo de pilotagem de ambos também é muito parecido.
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Se a vitória de Alonso, em Cingapura, foi "de sorte", a de Piquet no Japão também havia sido: o acidente de Senna e Prost, e as quebras de Mansell e Berger, dando de herança a primeira colocação para Nelson. Porém, na Austrália, Piquet venceu no braço, tendo como único "fator sorte" a quebra de Senna a 20 voltas do fim - Ayrton vinha em primeiro.
Porque Piquet passou os outros desafiantes (Berger, Mansell e Prost), um por um, e na última volta defendeu-se de maneira brilhante de uma tentativa de ultrapassagem de Nigel Mansell.
E o que Alonso fez hoje foi simplesmente fantástico, ainda mais do que fizera em Cingapura. A única "sorte" que o piloto teve foi a de, na primeira curva, não escapar da pista - como fizeram os pilotos das equipes 'grandes'. E no dia em que não errar for sorte, teremos de rever todos os nossos conceitos sobre a vida.
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Alonso fez uma corrida extremamente brilhante pois, além de não ter errado ou se envolvido em acidentes ridículos (e.g. Massa X Hamilton, Bourdais X Massa), andou num ritmo extremamente forte: até metade da corrida (pouco antes da segunda parada), fôra ele o autor das 3 voltas mais rápidas do circuito!
Alonso, de início, vinha em segundo lugar, atrás de Robert Kubica, e a diferença entre os dois oscilou entre 1 e 1.6 segundos, nas primeiras voltas. E, então, após incessantes conversas com os engenheiros, adotou-se uma estratégia ousada: Alonso faria uma primeira parada mais rápida que a de Kubica, colocando menos gasolina, e tentaria abrir uma vantagem segura em seu retorno à pista.
Deixa com ele que ele resolve: Alonso, mais uma vez, cravou recordes de pista, e chegou a ficar quase 11 segundos à frente do polonês. Alonso fez a sua segunda parada nos boxes, e 3 voltas depois foi a vez de Kubica. Alonso permaneceu à frente, com uma vantagem segura. E aí, veio a 21ª vitória.
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Alonso conseguiu duas belas marcas, em Fuji: em primeiro lugar, passou Coulthard e Barrichello se tornando o maior pontuador da atualidade, e o 4º da História da F-1, com 538 pontos. Além disso, com esse trunfo, Alonso supera Mika Häkkinen no histórico, se isolando como 11º maior vencedor da categoria - Häkkinen somara 20 ao longo de seus 162 GPs.
Agora, Alonso seguirá no encalço de: Damon Hill (22 vitórias), Nelson Piquet (23), Juan Manuel Fangio (24), Jim Clark e Niki Lauda (25 cada), Jackie Stewart (27) e Nigel Mansell (31). Sobrariam, ainda, as 41 vitórias de Senna, as 51 de Prost e, claro, as 91 de Schumacher.
Alonso tem todas as condições de superar os cinco primeiros já no ano que vem, caso a Renault realmente apresente uma melhora consistente: Alonso, conquistando cinco vitórias, superaria D. Hill, Piquet, Fangio e Lauda/Clark, ficando uma atrás de Stewart.
Porém, é notável que, em 2010 - caso consiga mesmo a vaga na Ferrari ou então a Renault volte a ser "top de linha" - ele poderá se firmar como o quarto maior vencedor da categoria, superando inclusive Mansell. Acredito que Alonso terá, também, todas as condições de superar Senna e Prost em vitórias. Já as de Schumacher, parecem inalcançáveis.
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Porém, sempre defendi que os números denotam se ou quanto um piloto é bom, mas não servem para, apenas olhando-os, analisar se este ou aquele é melhor: há todo um contexto, e diversas situações envolvidas. Por isso, embora tenha 8 pilotos com mais títulos (Schumy, Fangio, Prost, Senna, Piquet, Stewart, Lauda e Brabham), e outros 5 com os mesmos 2 campeonatos conquistados (Ascari, G. Hill, Clark, Fittipaldi e Häkkinen), Alonso já está alinhado entres os 10 melhores pilotos de Fórmula 1 já surgidos.
Numa primeiríssima linha, coloca-se Fangio, Senna, Schumacher e Clark (e o que pode mudar aqui é a ordem que você os dispõe); Alonso viria no "segundo" e luxuoso escalão, ao lado de montsros como os citados Piquet, Prost, Brabham e Fittipaldi, além de Stirling Moss - esses três últimos, como Alonso, ganharam menos que Stewart ou Lauda, mas os superam por tudo o que fizeram nas pistas.
E quando falo em "estar alinhado", não me refiro a uma ordem (5º melhor, 6º, etc), apenas os coloco no mesmo nível.
É questão de tempo para Alonso merecer ser classificado acima deles e, quem sabe, bater à porta dos 4 maiores.
Daí iremos lançar um novo olhar para esse piloto que bateu Schumacher nas pistas, recolocou a McLaren na trilha das vitórias, e está tirando a Renault do fundo do grid...
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Peguemos, por exemplo, a evolução da Renault.
É gritante a diferença que a pilotagem de Alonso fez, na equipe. Ele soma 48 pontos no campeonato. Ano passado, a Renault somou 51 nos CONSTRUTORES. Isso significa que, no mínimo, Alonso é muito melhor que Kovalainen e Fisichela. Kovalainen, amigos, que agora pilota uma McLaren e soma 51 pontos.
Não se assustem se, após o GP do Brasil, virem Fernando Alonso acima do piloto da McLaren, o que representaria uma das maiores humilhações da história recente da Fórmula 1. Pois, com a McLaren, Alonso venceu 4 corridas, e somou apenas um ponto a menos que o campeão do ano passado. Pode ser, ainda, que Alonso bata Heidfeld, da BMW, que atualmente tem 8 pontos na sua frente.
E não falo da evolução da equipe francesa apenas no sentido estatístico: me refiro ao desempenho. É só puxarmos um pouco na memória, e vermos o que era a Renault: nem se classificava entre os dez primeiros, nos treinos. Alonso se classificou entre os dez primeiros em 14 das 16 corridas do ano, tendo se classificado uma vez na primeira fila, e noutras duas na segunda.
E algo tão cômico quanto impressionante: se levarmos em consideração o campeonato a partir do GP da Hungria - o que representa as últimas seis corridas - teríamos o seguinte:
1) Alonso, com 35 pontos (2 vitórias e 3 quarto lugares);
2) Hamilton, com 26 pontos (1 segundo lugar, dois terceiros, um quinto e um sétimo);
3) Massa, com 25 pontos (2 vitórias, um sexto e um sétimo lugares);
4) Vettel, com 24 pontos (1 vitória, dois quintos, um sexto e um sétimo lugares);
5) Kubica, com 24 pontos (1 segundo, dois terceiros, um sexto e um oitavo lugares);
6) Kovalainen, com 23 pontos (1 vitória, um segundo e um quarto lugares);
Não quero, com isso, recorrer ao pobre discurso de que "se o campeonato começasse na Hungria, Alonso estaria liderando"... Falo apenas de um fato real: O cara tem uma Renault, ganhou duas corridas, e na reta final somou mais pontos e pontuou em mais GPs que os principais postulantes ao título. É loucura achar que ele levaria a taça com um carro um pouquinho melhor?...
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Segue aí um trecho da excelente coluna de Eduardo Correa, no GP Total, esse domingo:
"Recomendo aos dois aspirantes ao título que estudem em detalhes a verdadeira aula ministrada pelo espanhol, levando o seu Renault a um lugar no grid de largada e depois a um vitória que nem os seus mais ardorosos fãs poderiam imaginar. De quebra, Alonso ainda ridicularizou Robert Kubica e a BMW, que supostamente lhe negou um lugar em 2009.
Dele só se pode reclamar de uma coisa: ao romper com a McLaren, ele nos privou de uma disputa emocionante contra Hamilton e a dupla da Ferrari, uma disputa capaz de rivalizar com aquela que envolveu Prost, Senna, Piquet e Mansell em 86-87".
Quem puder, veja o video a seguir: uma seleção de várias imagens da carreira de Alonso, e uma estranha profecia implícita...

5 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Balista disse...

Vitória maiúscula do espanhol!!!

"piloto que bateu Schumacher nas pistas, recolocou a McLaren na trilha das vitórias, e está tirando a Renault do fundo do grid"

Esta linha de raciocínio é perfeita: estamos vendo a história sendo escrita. Daqui a 10 anos, este tipo de comentário será corriqueiro sobre a carreira de Alonso.

Anônimo disse...

Fantástico esse cara! em 2009 disputa o título!

Unknown disse...

E o que foi o Pat Symonds em entrevista ao autosport.com (OK, there was a mess on the first lap which certainly helped us but at one point, on lap 63, Fernando just said, "I can go much quicker than this, don't worry.")
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F1 Critics disse...

excelente, Marcelo.

dessa eu não sabia, mas desconfiava... hehe