domingo, 9 de janeiro de 2011

Senna não é Pelé (Ainda bem!)

Publicaremos aqui um texto escrito na forma de comentário no site da revista Bula, sobre as críticas do autor a Senna, que incorreram de um paradoxal endeusamento a Pelé.

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O texto é válido partindo da premissa de que todos os mitos (religiosos, históricos, artísticos, esportivos, culturais, etc), TODOS, devem ser questionados, analisados, e compreendidos. É saudável questionar, mas somente se for no sentido de buscar entender a razão de tais coisas terem se transformado em mitos.

Isso me faz lembrar de um artigo escrito por ninguém menos que José Miguel Wisnik, no final da década de 1970, sobre Roberto Carlos: Parafraseando esse grande músico e pensador da música, eu digo: "A crítica não está preparada para falar de Ayrton Senna. Bate com diferentes intensidades na mesma tecla: marqueteiro. Cansa de dizer o óbvio: que é cada vez mais idolatrado. Dança. Esquece de pensar o oculto mais óbvio: que tipo de força o sustém no ar por tanto tempo. Por que ele?"

Ademir Luiz, imerso no próprio ego de professor universitário da área de humanas (uma área em que dificilmente vemos pessoas extrovertidas, humildes e que não pensem terem a eterna fonte da juventude), questiona o mito Ayrton Senna, mas comete dois erros fundamentais: 1) não busca entendê-lo; 2) mitifica ainda mais, e blinda os questionamentos a tal, o mito Pelé.

Começando pela parte de Pelé, podemos ir para diversos tópicos:

I. Gerd Muller, Josef Bican e Arthur Friedenrich marcaram mais gols que Pelé ao longo de suas carreiras;

II. Bican e Romário, tão criticado por aqui por ter feito gols no Madureira, etc, superam Pelé em gols marcados em partidas OFICIAIS (!);

III. Pelé não marcou gols em 513 de suas 1375 partidas, ou seja: em 37,31% das partidas que disputou, Pelé não marcou gols;

IV. Isso joga uma luz sobre quando lemos que seu recorde de gols em uma partida foi de oito tentos, em 21 de novembro de 1964, no jogo Santos 11 a 0 Botafogo de Ribeirão Preto.

V. Pelé ganhou três copas do mundo, mas na de 1962 participou apenas da primeira partida: naquele campeonato, o grande nome foi Garrincha, sendo considerado, ao lado de Maradona-1986, como o jogador que "ganhou uma copa sozinho";

VI. Independente de Garrincha, o time de 1962 (base de 1958), era excelente, e provou que não era "pelé + 10": Didi foi considerado o melhor jogador da Copa de 1958;

VII. Pelé foi considerado o melhor jogador da Copa de 1970, jogando pela seleção que é tida como "a maior de todos os tempos";

VIII. Pelé é o grande artilheiro, mas nucna foi artilheiro de uma Copa do Mundo: Gerd Muller, ele de novo, fez 10 em 6 jogos em 1970.

IX. Pelé chegou a 12 gols em 14 partidas de Copa; muller tem 14 em 12, Fontaine 13 em 6; isso para não citar Ronaldo (15 em 19) e Klose (14 em 20);

X. Pelé não quis ir à Copa de 1974 - alegando ser uma questão de combate à ditadura que ele mesmo apoiara e desfrutara em 1970; a verdade não foi essa (dinheiro envolvido --Pelé percebeu que ganharia mais como garoto-propaganda do que como jogador--, além da consciência (oh!) de que já não era mais o maior jogador do mundo, posto ocupado por johan cruyff e franz beckenbauer);

XI. O Santos que, a exemplo da seleção brasileira da época, não era Pelé + 10, provaria essa verdade ao conquistar o título mundial de 1963 NÃO CONTANDO com Pelé nas duas partidas decisivas, em que o Santos venceu (ele participara do 1º jogo, que terminou em derrota santista);

XII. Pelé, tão citado como dono de "três copas e dois mundiais" tem, na verdade, duas copas e um mundial;

XIII. Pelé era conhecido por ser um atleta desleal em campo:

XIII.I. Por mais que seus defensores aleguem que ele apanhava demais (citando brasil v.portugal, em 1966), o recorde de faltas sofridas por um mesmo jogador em uma partida (23) e em um torneio (53) de Copa do Mundo é de Maradona, contra a Itália em 1982 e na Copa de 1990, respectivamente;

XIII.II. Seus defensores também aplaudem a cotovelada proferida por pelé no jogador fotnes, do uruguai, alegando que o uruguaio havia "acertado pelé", antes: é a mesma justificativa de sennistas para a batida com prost em 1990;

XIII.III. Os jogadores Kiesman, alemão, e Procópio, brasileiro, zagueiro, promessa contada por todos da época, tiveram suas pernas quebradas em entradas de Pelé: o brasileiro, inclusive, passou 5 anos tentando voltar aos gramados até que teve mesmo de abandonar sua carreira ("tive vontade de matar o Pelé", disse);

XIV. A propagada 'ambidestria', o drible e o 'cabeceio', como 'provas' de que Pelé era "o mais completo", são também características de Di Stefano e Meazza, para ficar nos históricos, do hlandês Van Basten nos anos 80, e hoje Cristiano Ronaldo exibe todos esses fundamentos;

XV. Milhões de brasileiros preferem Garrincha - "A Alegria do povo";

XVI. Falando do ser humano ("cavalheiro chamado Edson", segundo o autor), é engraçado como o autor questiona a sexualidade de Ayrton Senna ("O tão falado 'amigo' de infância"), numa característica homofóbica gritante, sendo que Pelé admitiu, em entrevista à PLAYBOY (a mesma na qual disse que mandou Xuxa 'perder a virgindade com outro homem para depois transar com ele'), que perdeu a virgindade com um garoto, quando tinha seus 14 anos;

XVII. Pelé negou uma filha, e seus defensores alegam que ela só queria dinheiro; Quando ela morreu, de câncer, aos 42 anos, Pelé enviou uma coroa de flores e nada mais; Maradona e Ronaldo, para citar dois, reconheceram filhos "extra" casamento;

XVIII. Coutinho, em entrevista nos anos 80: "Se eu soubesse quem era Pelé, ele nunca teria feito 1000 gols. O homem que conheci no Santos não é amigo de ninguém, só pensa em si mesmo".

XIX. Pelé desviou dinheiro da Unicef (700 mil dólares pagos por uma 'aparição' do rei em Buenos Aires, 1995): ele recebeu e não houve show;

XX.
Pelé desviou dinheiro do Flamengo em transação com a ISL, mediada pela "Pelé Sports";

(Nos dois casos, seus defensores alegam que Edson foi enganado por seu sócio)

XXI. Pelé teve outro relacionamento fora do casamento e, depois que o caso iria estourar, ofereceu pagar cirurgia de reconstituição do hímen à sua amante;

XXII. Pelé é até hoje lembrado como, talvez, o pior ministro dos esportes que o brasil já teve.

O autor tentou, de todas as maneiras, dizer que Senna não foi superior nem como ser humano nem como piloto. Para dizer que Pelé, sim, o foi.

Como vimos, essa não é a realidade.

O que não me impede de, ainda assim, considerá-lo o melhor da história do futebol: mas Maradona, Garrincha, Cruyff, Di Stefano, Puskas e Beckenbauer, chegaram muito, muito próximos.

E como ser humano, bem... Parafraseando André Fontenelle, Edson "foi outra coisa".

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns !
Acho que vc é o segundo brasileiro que sabe alguma coisa de verdade sobre o Pelé, principalmente sobre a carreira dele (pensei que eu era o único). Porque a imprensa só sabe endeusar o cara e querer atochar uma coisa que ele não foi.
Melhor da história ? Talvez sim.
Mas não do jeito que a imprensa conta.

Achilles Christiano disse...

Pele na copa do Chile procure por esse vídeo no Youtube, pra depois falar do Garrincha