sexta-feira, 9 de abril de 2010

42 anos... - parte 2

Uma das perguntas que sempre recaem quanto á morte de Clark é: "por que ele, um bicampeão mundial de Fórmula 1, líder do campeonato daquele ano, foi disputar uma prova de Fórmula 2?"...

Essa e outras respostas podemos encontrar na brilhante coluna "As últimas horas de Jim Clark", de Luís Fernando Ramos, publicada no GP Total em 2008, celebrando os 40 anos da morte do escocês voador. Colocaremos aqui os trechos mais significativos, mas fica a dica da leitura, até porque conta-se um pouco da história do lendário autódromo. Todos os parágrafos são de LFR.
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Na verdade, o escocês só compareceu nesta corrida graças à desorganização de Alan Mann. No mesmo dia 7 de abril havia uma corrida do Mundial de Marcas para carros de turismo em Brands Hatch. Mann, chefe de equipe da Ford, não confirmou por escrito para a Lotus a intenção de contar com Clark para a prova, e Colin Chapman aproveitou para inscrevê-lo na corrida de F-2 em Hockenheim. Quando Mann foi falar com Clark no final de março, o escocês não quis trair a lealdade que tinha com o velho patrão e confirmou que correria na Alemanha, abrindo mão do convite da Ford.
No fundo, Clark encarava a corrida de F-2 como um compromisso incômodo que desejava encerrar logo. Na segunda e na terça-feira seguintes à corrida de Hockenheim ele testaria uma nova versão de seu carro de F-1, o Lotus 49B, em Zandvoort. E, no final de semana seguinte, finalmente teria tempo para visitar os pais na cidade escocesa de Duns. Para completar, o próprio traçado do circuito alemão o desagradava, já que um motor potente fazia mais diferença que um bom piloto. “Absolutely ridiculous”, foi o comentário dele sobre a pista depois do treino de classificação, quando obteve apenas o sétimo lugar no grid de largada.
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Mas a noite de Clark ainda não tinha terminado. Ahrens relembra. “Eu sentia que Clark não estava muito interessado no final de semana da corrida. Depois da apresentação na tevê, ainda nos sentamos juntos no restaurante Adlerstübchen, nos ofereceram cerveja de graça, mas ele preferiu tomar refrigerante”. Depois do jantar, o Mercedes-Benz 280 do alemão apresentou um problema no motor. A solução de emergência era a de encher o reservatório de óleo ao máximo, mas encontrar um posto aberto naquela hora não foi fácil. Depois de trocarem autógrafos por latas de óleo, Ahrens levou Clark numa velocidade de 30 km/h, para não fundir o motor, de volta para Hockenheim. “Era cerca de 2h30 da manhã quando eu o deixei no Hotel Luxhof”, conta o alemão. Dez horas depois, Clark estava morto.
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O acidente fatal teve apenas duas testemunhas, os fiscais de pista Franz Perino e Winfried Kolb, que ficavam no meio do retão que levava à Ostkurve. Abaixo, o depoimento de Kolb dado ao jornalista alemão Eberhard Reuss.

- A Lotus de Clark já veio de lado, num ponto que um Fórmula 2 chegava a 260 km/h com aceleração total. Eu estranhei quando vi o número do carro de lado e vi na hora que ele estava com problemas. Então o carro saiu da pista em um ângulo de 45 graus, a 30 ou 40 metros do nosso posto. Talvez Clark tenha tentado corrigir, mas os pilotos sentavam tão fundo no cockpit na época que fica difícil afirmar se ele fez algum movimento de contra-esterço. Tudo acontece em dois, três segundos no máximo. Como o carro veio de lado, ele perdeu velocidade. Assim, eu calcula que ele estaria a 230 km/h na pista e entrou na floresta a cerca de 180 km/h. Eu saí correndo e fui o primeiro a chegar no local do acidente.
A Lotus estava partida em três, haviam destroços num raio de 50 a 80 metros. O bloco do motor estava numa vala, a parte da frente bem longe do chassi propriamente dito. Jim Clark estava ali, sem sinais de vida no cockpit. Foi trágico que o carro bateu contra uma árvore bem na altura do cockpit, imagino eu que foi ali que ele teve as contusões que o mataram.Franz Perino imediatamente alarmou a equipe de resgate por telefone, como era o padrão na época. A ambulância chegou lá três ou quatro minutos depois, mas teve de entrar na pista junto com os carros da F-2, já que a corrida não foi interrompida!
Quando nosso médico Eddy Rodenfelder chegou no lugar, ele sentiu o pulso e disse que ele ainda estava vivo. Colocaram Jim Clark na ambulância e ele morreu a caminho do hospital, com o diagnóstico de quebra do pescoço e da base craniana. Eu tinha na época 28 anos e tinha começado a trabalhar como fiscal de pista. Nosso automóvel clube e a cidade inteira estavam orgulhosos que o melhor piloto do mundo iria correr em Hockenheim. Tantas pessoas que foram ao autódromo ver Jim Clark e então acontece uma coisa daquelas. Foi uma catástrofe.

É difícil afirmar qual a real causa do acidente que matou Jim Clark, mas o impacto que ela teve no mundo das corridas foi extenso. “Se isto pode acontecer até com Clark, nenhum de nós está seguro”, contou Chris Amon, que também estava em Hockenheim no dia. De fato, no mesmo ano ainda morreria Mike Spence, Ludovico Scarfiotti e Jo Schlesser. A época de um automobilismo de belos carros, grandes pilotos e circuitos espetaculares foi também um dos períodos mais sangrentos do esporte.

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