quarta-feira, 7 de abril de 2010

42 anos...

O ano de 1968 é lembrado até hoje como o mais importante do século 20, pois foi nele que sucederam alguns dos maiores acontecimentos da história da humanidade, e diversos fatos tiveram influência no curso que o mundo iria tomar, em âmbitos nacionais e internacionais.
Fácil, fácil, podemos citar pelo menos 5 situações de nível mundial que confirmam essa tese: tivemos a Guerra do Vietnã, o protesto estudantil na França, a invasão russa à Tchecoslováquia, além dos assassinatos de Martin Luther King e Robert Kennedy. Tudo isso sem contar que, no Brasil, o famoso AI-5 era decretado em 13 de dezembro daquele ano.
Mas não foi somente no campo político que o ano de 1968 ficará marcado para sempre pelas tragédias: a 7 de abril daquele ano morreu James Clark Junior, ou simplesmente Jim Clark, um dos melhores pilotos de todos os tempos.
Ainda que ele fosse mundialmente reconhecido como o grande piloto da Fórmula 1 da época (seu apelido era "escocês voador"), foi numa corrida de Fórmula 2 - guardadas as devidas proporções, a GP2 de hoje - que ele perdeu sua vida. (Traremos mais detalhes sobre essa corrida na próxima sexta-feira).
Sua carreira, sob todos os aspectos, foi uma das mais brilhantes de todos os 60 anos da história da Fórmula 1. Seus números continuam a impressionar, mesmo depois do advento de Michael Schumacher. Vamos a eles.
- Grandes Prêmios disputados: 72;
- Vitórias: 25 (34,72%)
- Pole-positions: 33 (45,83%)
- Melhores Voltas: 28
- Pódios: 32
- Pontos conquistados: 274
- Temporadas Completas: 7
- Títulos: 2
Nessas estatísticas, há uma grande coerência, conforme explicaremos mais adiante. Mas, à primeira vista, uma delas chama a atenção: são 32 pódios, sendo que 25 vezes ele terminou em primeiro lugar. Mais curioso ainda: dessas 7 "não primeiras" posições, em apenas um GP (!) ele terminou em segundo. Isso mostra o quanto Clark era determinado em busca da vitória.
Das suas 25 vitórias, em 13 ele venceu de ponta-a-ponta (perde apenas para Ayrton Senna nessa 'marca'), e em outras 11 ele liderou a maioria das voltas.
E um recorde seu que permanece até hoje, e que provavelmente jamais será batido, mostra bem o quão único Jim Clark foi: o escocês venceu 8 corridas largando da pole, liderando todas as voltas - inclusive quando parava nos boxes - e registrando o giro mais rápido do dia.
Algumas de suas temporadas também lhe renderam recordes significativos: tanto em 1963 quanto em 1965, época em que havia descartes, Clark só obteve vitórias nos resultados que eram considerados válidos: em 1965, venceu 6 dos 10 GPs, abandonando os outros 4 (descartados); e em 1963 foi ao pódio em 9 das dez corridas, vencendo nada menos que sete - ou seja, ele teve de descartar uma vitória!
E sua outra marca emblemática que jamais deverá ser igualada também, embora por outras questões, é o feito de ter sido campeão mundial de F-1 e vencer as 500 milhas de Indianápolis no mesmo ano: ainda que Emerson tenha sido bicampeão tanto de F-1 quanto de Indy500, Clark é o único piloto a tê-lo feito no mesmo ano.
Mas sua importância na história da categoria é muito maior do que isso: quando faleceu, ele era o maior vencedor de GPs de todos os tempos: atingira suas 25 vitórias superando as 24 de Fangio. Também já havia batido a marca de poles do argentino: no GP do canadá do ano anterior o escocês atingira sua 30ª pole, ante as 29 de Fangio.
Em 4 temporadas (63/64/65/67) Clark foi o piloto que mais venceu GPs e, com a óbvia exceção de sua primeira temporada completa, apenas em 1966 ele não foi um potencial candidato ao título: naquele ano, a diferença dos Brabham para o restante do grid eram enormes, mas Clark venceu uma corrida. Foi vice-campeão mundial em 1962, ao passo que em 1964 e 1967 terminaria na terceira colocação.
Mas, além desses números maravilhosos, a Clark pode ser atribuída uma quantidade implacável de 'azares' que resultaram em perdas significativas de títulos ou pelo menos da possibilidade de obtê-los: tanto em 62 quanto em 64 ele foi vítima de falhas mecânicas na última corrida, quando vinha para o título.
E, no ano de sua morte, Clark pôde disputar apenas um GP, o da África do Sul. O resultado? Pole, vitória e melhor volta. Naquele ano, o campeão do mundo foi Graham Hill, seu companheiro de equipe, o que só reforça a ideia de que Jimmy teria sido campeão pela terceira vez.
Sua maior contribuição para a história foi que ele dosava na medida exata a direção espetacular e a condução suave, de modo que nenhum outro piloto conseguiu.
Independente da posição, caro leitor, Jim Clark jamais poderá ser citado fora do pódio numa corrida imaginária da Fórmula 1 de todos os tempos.

3 comentários:

Anônimo disse...

Belíssimo texto, auto-explicativo. Considero realmente impressionante esse recorde de vitórias absolutas (ponta-a-ponta, pole, m. volta) e o fato de nem mesmo Schumacher tê-lo batido mostra muita coisa... Excelentes fotos e video tb! Aguardo o resto.

Marcelo Ferreira - Belo Horizonte-MG disse...

Muito bom o texto, Clark era foda não eh a toa que Senna era muito comparado a ele na época da Lotus!

F1 Critics disse...

Obrigado Diego e Marcelo pelos comentários. E isso que Marcelo falou, sobre as comparações com Senna, é verdade e não aconteceu apenas no período de Senna na Lotus: por exemplo, no livro "A Face do Gênio", de Cristopher Hilton, ele permanece falando sobre as comparações entre os dois, e àquela altura Senna já era bicampeão mundial.

Ele, inclusive, encontra relatos históricos da vida dos dois, com Senna dirigindo tratores em sua fazenda no interior de SP e trocando marchas sem usar a embreagem (!), assim como Clark fazia no interior da Escócia.

Abraços!