terça-feira, 24 de junho de 2008

Os Brasileiros e a Fórmula 1 - parte 2

Dando seqüência ao nosso entendimento dos "90% que assistem às corridas de F1 torcem pela seleção, e só 10% gostam de corridas", temos agora mais um texto publicado no http://www.gptotal.com.br/ , escrito por Carlos Chiesa, comentarista da Rádio Bandeirantes e maior referência nacional quando o assunto é o automobilismo pré-F1.

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Entendidos

Vou retomar o tema da coluna Sacanagem na F1, que o Ernesto Rodrigues desenvolveu com maestria, expondo a injustiça que opiniões levianas fazem com, por exemplo, Rubens Barrichello. Penso que o assunto ainda não se esgotou. Continuarei a faxina com o trio global, de quem se espera opiniões nada levianas, exatamente porque são os maiores formadores de opinião deste negócio, que em tempos pré-Ecclestonianos era classificado como esporte. Galvão é, caso você tenha chegado de Marte ontem, uma espécie de Silvio Santos da transmissão esportiva. Ele não está lá propriamente para narrar, mas para entusiasmar. Ele enxerga tensões e méritos onde boa parte dos fãs do GPTotal enxerga banalidades. Seu objetivo, claro como o sol do meio-dia reverberando na areia do Bahrein, é alavancar audiência.

Você pode não gostar do estilo, que seria o mesmo se ele transmitisse campeonato de autorama ou futebol de botão, mas ele é bom nisso. E é por essa razão que a ultraprofissional TV Globo, que não dorme em cima do Ibope, o mantém. O número de pessoas que enxergam defeitos no GB deve ser ínfimo perto dos que gostariam de segurar um cartaz “Filma eu, Galvão” em algum autódromo. GB aproveitou muito bem os tempos felizes em que tivemos três campeões mundiais, um após o outro, para instalar na parte de trás dos nossos cérebros que é a coisa mais normal do mundo ter um brasileiro como campeão mundial. É praticamente uma obrigação. Um direito divino que só traidores do verde-amarelo deixam de exercer. Quem conhece minimamente F1 sabe que a França só teve um campeão mundial até hoje e a Alemanha idem, se descontarmos as corridas pré-2a Guerra, países intimamente ligados ao automobilismo desde o parto deste.

Ele faz a mesma coisa com o escrete canarinho e ai de quem perder uma Copa. Por isso ele trata de sugerir, direta ou indiretamente, temporada após temporada, desde que o Senna morreu, que ainda há esperanças. Tenta aumentar o número de telespectadores que acompanha a F1 ou, ao menos, não perder os que acompanham só porque tem brasileiro na pista. Sim, aquele cara que vai procurar notícias sobre o Dinamo de Kiev se tiver algum jogador nascido entre o Oiapoque e o Chuí jogando lá. Seu trato benevolente com o pequeno Piquet, a promessa brasileira da vez, é um sinal inequívoco. Ele já foi assim com o “Massinha”, com o Pedro Paulo Diniz, com… tantos. Mas, se você quer continuar assistindo ao vivo os GPs, é melhor não reclamar muito, porque se o Ibope cair abaixo do nível de bom negócio, a Globo pode mudar de idéia e aí você vai ver que falta faz o padrão de qualidade da emissora carioca.

Quem gosta de automobilismo e tem quilometragem no assunto tem que ouvir suas narrações como algo folclórico, na tradição de Geraldo José de Almeida, Raul Tabajara, Luciano do Valle, seus antecessores, especialistas em elevar batimentos cardíacos dos incautos nas transmissões esportivas. Dê risada com o exagero no uso dos bordões tipo “que sufoco”, “haja coração” “ele está guiando na ponta dos dedos” e não espere concisão, informação para especialistas. Ele quer pegar exatamente os novatos, aqueles que devem assistir a F1 vestindo a camisa da seleção canarinho, apenas esperando que algum piloto resolva comprovar que com o brasileiro não há quem possa. Esses são os mesmos caras que acham que um piloto que ganha nove Grandes Prêmios [Rubens Barrichello] é um braço-duro. Os mesmos que acham que a única equipe não-européia da história da F1 [a Copersucar] é um fracasso. Do futebol. Por qualquer coisinha o técnico é burro, o craque vira um perna-de-pau, o juiz foi comprado etc. Não perdoa o menor dos erros. Como psicólogo amador, diria que esse tipo de espectador está projetando suas frustrações nos pobres pilotos e jogadores de futebol.

Ele adoraria mandar seu chefe para a vendedora-do-amor-que-deu-à-luz mas lhe falta coragem, a mesma coragem que ele cobrava furiosamente do Rubens quando este estava na Ferrari e teve que fazer o jogo da equipe, favorecendo você sabe quem. Por que o Rubens não deveria respeitar seu contrato de trabalho, como qualquer funcionário? Porque sua obrigação maior era dar a esse senhor com problemas a satisfação de sair por aí transbordando de orgulho de ser brasileiro. Reginaldo e Luciano travam uma disputa particular pelo mesmo posto. Reginaldo usa a experiência de trás das câmeras, Luciano a da frente das câmeras. Visivelmente Luciano leva vantagem para a audiência mais esclarecida, impressionou bem no começo mas agora dá pinta de ter diminuído o ritmo, para acompanhar seu colega, que parece estar sentindo a pressão. A telemetria acusa algum problema de memória em Leme, que apresenta seguidas falhas ao descrever passagens que presenciou.

Talvez RL esteja sofrendo do mesmo mal que Hamilton, exagerando, abusando da auto-confiança e da eventual falta de memória do telespectador novato. Pena, pois tanto ele quanto Luciano poderiam dar um cunho mais jornalístico, abordando aspectos menos óbvios.

Abraços,
Chiesa

Um comentário:

Anônimo disse...
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