terça-feira, 18 de maio de 2010

Engov

Ainda mais patético do que ver o narrador e seus comentaristas defendendo a 'ira' de Barrichello ou elevando Di Grassi ao nível de grande piloto, foi constatar que a torcida de Galvão e cia por Felipe Massa/contra Fernando Alonso (é a mesma coisa, não?) fez com que Michael Schumacher, da noite pro dia, se tornasse o queridinho. Bueno só faltava gritar de alegria com, primeiro, as teóricas aproximações do alemão na caça do espanhol e, depois, com a ultrapassagem punida.
Eles que, mestres em manipular a opinião pública e omitir informações, sempre criticaram o mesmo piloto germânico por conta de sua conduta. Acontece que, antes, Schumacher era o 'cara que arruinou Barrichello'; hoje, ele é o 'irmão mais velho' de Felipe Massa. Demais para o discernimento.
(Nos treinos para o GP da Espanha essa faceta já havia se tornado visível: no início do Q3, Fernando Alonso sai dos boxes e por pouco não se choca com Nico Rosberg, que já havia partido. Galvão Bueno faz com que tal manobra ganhe ares de sujeira das mais desprezíveis, esquecendo-se, por exemplo, de dois momentos ocorridos com Felipe Massa na temporada de 2008 com Adrian Sutil - durante a corrida, o que é mais importante)
Hoje, no Globo Esporte, a tônica seguiu, com Luciano Burti defendendo Schumacher: ele usou-se do termo "ele foi induzido ao erro". Logo em seguida, a apresentador do programa chama a atenção de Burti para o fato de que a Mercedes retirou a apelação que havia iniciado ainda no domingo.
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Vi gente citando a punição dada a Ayrton Senna em Suzuka, 1989, comparando a Mônaco-10, porque, segundo tais, em ambos os casos "quem julgou tinha algo contra/a favor dos envolvidos". Em outras palavras: para estas pessoas, o critério para a punição de Schumacher é o mesmo daquele dado a Senna, pois enquanto Senna tinha contra si o diretor francês Balestre favorecendo seu compatriota (coisa que ele chegou a admitir na polêmica entrevista de 1996) Schumacher tem agora contra si o comissário que quer se vingar do passado: a polêmica batida do GP da Austrália de 1994.
"Um erro não justifica o outro", dizem.
E além de tornarem Hill uma espécie de promotor de Brasília, os mesmos atentaram para o fato de Alonso estar na Ferrari e que "a Ferrari é sempre beneficiada", etc.
Será que eles esquecem que Schumacher esteve na Ferrari entre 1996 e 2009 (até 2006 foi piloto, e entre 07 e 09 ficou entre "Piloto de testes de luxo" e "consultor esportivo")? Será que eles esqueceram do GP do Japão de 1997? Será que eles esqueceram do GP da Malásia de 1999? Será que eles esqueceram do GP dos EUA de 2005? Será que eles esqueceram do GP da Itália de 2006? Será que eles esqueceram da regra dos amortecedores durante 2006? Será que eles esqueceram dos GPs de Valência e da Bélgica de 2008?
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E os camaradinhas que falam do "rancoroso" Hill, tentam limitar os problemas daquela temporada à colisão da última corrida. Não foi só isso, não...


Também hoje, saiu o primeiro comentário de Damon Hill sobre a decisão de punir Schumacher, comentada à exaustão nos últimos dois dias, e usada como prova de manipulação/favorecimento por parte da imprensa, como apontado na coluna do GP Total.

Damon Hill disse que esperava exercer uma função diferente da qual fora designado: "Eu imaginei que estaria lá como consultor, dando um auxílio para os gestores, que então tomariam suas decisões", disse. Para Hill, é questionável "se é justo que os corredores estejam na posição de quem deve interpretar os regulamentos".

Isto posto, o campeão mundial de 1996 afirmou que sentiu "desconforto" por ter de julgar "um incidente envolvendo Michael", mas que "agiu certo" e ser comissário foi "uma experiência fascinante".

Mas o que mais chamou atenção na declaração do ex-piloto foi quando se referiu ao pós-punição: "Já recebi vários e-mails de pessoas me acusando de preconceito".

Certos jornalistas brasileiros, mesmo estando fora da Globo certamente estão não entre os que mandaram e-mail para Damon Hill, mas sim nos que o consideram "vingativo" ou "rancoroso" e mais ainda que vêm a ocorrência da punição "somente" - sic - porque Hill era comissário. Nesse grupo de jornalistas, encontram-se tanto fãs do alemão quanto de Massa, e o interesse em tornar essa falácia numa verdade é distinto, mas culmina com a célebre frase: "O inimigo do meu inimigo é meu amigo".

Assim, temos um caso raro de união entre abutres e papagaios de pirata.

Um comentário:

Lucas Ferreira disse...

Você falou uma coisa muito interessante e que é real durante toda a Formula 1 ou pelo menos desde que eu assisto, como por exemplo: 2005 e 2006, o Bi Campeonato do Alonso, muito torcedores do Raikkonen e "anti-Schumacher" começaram a falar bem do Alonso, começaram gostar dele e tudo mais, mas agora esses "anti-Schumacher" que torcem, a maioria para o Massa, não gosta do Alonso e diz que o Massa é muito mas piloto...
Outra coisa que você disse que eu além de concordar, uso para casos como esse, é de "um erro não justifica o outro"...

Abraços