O texto a seguir pode ser encontrado no http://www.gptotal.com.br/
Foi escrito por Ernesto Rodrigues, renomado jornalista brasileiro, que trabalhou na Rede Globo nos anos 80 e 90, como editor de esportes, e autor do livro "Ayrton - O Herói Revelado", a biografia esportiva mais bem sucedida da história do Brasil. Foi escrito em 04 de abril de 2008.
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Sacanagem na Fórmula 1
O que me leva a dividir com os amigos do GPTotal um sentimento que creio não ser novidade para os conhecedores profundos do automobilismo, independentemente de nacionalidades, preferências e torcidas? Trata-se de um fenômeno que me incomoda e que atinge um personagem que está para sair de cena. Um personagem que, no âmbito brasileiro, sempre teve suas inegáveis virtudes e seus conhecidos defeitos totalmente embaralhados por circunstâncias do seu tempo, por algumas injustiças e, principalmente, por uma lamentável ignorância em matéria de automobilismo, tanto de jornalistas ditos “esportivos” quanto de milhões de torcedores de ocasião, mal-acostumados com as glórias aparentemente fáceis de Emerson, Piquet e Senna. Refiro-me, claro, a Rubens Barrichello.
Para ficar num exemplo da temporada atual, basta observar o que está acontecendo com o bicampeão Fernando Alonso para entender o que muitos brasileiros - ao contrário, insisto, da maioria dos leitores deste GPTotal - jamais compreenderam, ao cobrar resultados de Barrichello na Jordan e na Stewart: sem um carro competitivo não há vitórias ou títulos, seja qual for o piloto. É claro que Rubens só piorou a situação ao longo de todos aqueles anos de Jordan e Stewart, não na pista, mas nas entrevistas à imprensa brasileira, cedendo sistematicamente à tentação de dizer impossibilidades bem-intencionadas e confiar na vitória, nos inícios de campeonato e nos seus sempre desastrosos Grandes Prêmios do Brasil.
A incapacidade que a maioria dos brasileiros tem de avaliar equilibradamente o desempenho de Barrichello continuou e se agravou ainda mais, tornando-se piada nacional, nos sete anos de Ferrari. Sempre, infelizmente, com a ajuda do próprio Rubens, mais uma vez fora da pista, agora cedendo ao desejo incontrolável de dar entrevistas considerando-se detentor das mesmas atenções que a equipe italiana dava a Michael Schumacher. Essa desastrada estratégia de comunicação, aliada a algumas situações humilhantes que a Ferrari impôs a Barrichello nas pistas, impediu que a grande maioria das pessoas percebesse a façanha que ele protagonizou ao andar tão próximo e por tanto tempo de um dos gênios do automobilismo de todos os tempos. E com um equipamento não necessariamente tão bom.
Até mesmo um momento em que Barrichello foi impecavelmente mais veloz que Schumacher, fazendo com que a Ferrari o obrigasse a ceder o primeiro lugar ao alemão no GP da Áustria de 2002, costuma ser lembrando, por nós, como vergonhoso para Rubens, quando a vergonha e o constrangimento deveriam recair muito mais na hipocrisia da equipe e de Michael. Não tenho as estatísticas à mão, mas há outro grande feito de Barrichello do qual poucos se dão conta: a baixíssima taxa de erros dele em treinos e corridas, mesmo tendo como parâmetro, ali do lado, no boxe da Ferrari, a montanha intransponível de eficiência e velocidade que era o alemão. Apenas para ilustrar, vale comparar a taxa de erros de Felipe Massa, tendo ao seu lado Kimi Raikkonen, num carro praticamente idêntico.
A façanha de resistir psicologicamente ao alemão e ao fundamentalismo ferrarista durante tantos anos, vencendo nove corridas e ainda ganhando algumas dezenas de milhões de dólares, dá bem uma idéia da capacidade de Barrichello enfrentar a máquina que hoje parece começar a triturar a carreira de Massa. Mas não adianta: nem o fato de se tornar o recordista em participações e uma das maiores pontuações da história da Fórmula 1, faturando, dizem, mais US$ 12 milhões com a Honda na atual temporada, impede que Barrichello continue sendo uma piada no Brasil. Quanto menos do ramo forem, claro, os participantes da conversa. Barrichello virou piada no Brasil, de certo modo, por culpa – obviamente involuntária - de Emerson, Piquet e, principalmente, Senna.
Tentando explicar: Emerson inspirou o surgimento de milhares de “entendidos” em automobilismo, Nelson os elevou aos milhões sem lhes retirar as aspas e Ayrton incendiou a multidão, transformando boa parte dela em uma espécie de religião, não importando muito entender de automobilismo, principalmente depois da tragédia de Imola. Para complicar, antes mesmo de Imola, houve o choque irremediável entre sennistas e piquetistas, com danos, incompreensões e injustiças irreparáveis e duradouras para ambos os lados.
O tremendo descompasso entre o tamanho do contingente de fãs brasileiros – piquetistas ou sennistas - e o grau de conhecimento que esses mesmos fãs tinham dos princípios básicos do automobilismo só contribuiu para que a discussão sobre Fórmula 1, em nosso país, se tornasse cada vez mais descolada da realidade do esporte. E Barrichello, respeitado e reconhecido lá fora como um dos bons pilotos da categoria nos últimos 15 anos, é a principal vítima desse descompasso na mídia não especializada e em muitas rodas de “entendidos”. Aqui no Brasil é assim: ou o cara é campeão ou, como diria Marcelo Madureira, é uma merda. Puta sacanagem.
Um abraço,
Ernesto Rodrigues
19 comentários:
A verdade é que no Brasil, seja em qualquer esporte, se você vai com a ''cara'' da pessoa ou de um time, você fica apaixonado por ela ou ele, e por mais que essa pessoa não seja boa, você crê que ela é a melhor do mundo, e se você não gosta da pessoa, você faz dela a sua maior inimiga, destrói ela em qualque aspecto, por mais que não seja verdade. Assim também é no futebol,música e outras culturas.
Aqui, no Brasil é 8 ou 80, como disse Marcelo Madureira: ou é campeão ou é uma merda. Abraço.
PS: Muito bom esse blog, algo novo em informação sobre F-1.
Esqueceram de um dos mais importantes recordes de Michael Schumacher. O alemão foi desqualificado pela manobra anti-desportiva no GP da Europa(Jerez) de 93, em que "jogou" propositalmente seu carro em Villeneuve, campeão daquele ano.
Schumacher foi o ÚNICO piloto da hitória da F-1 a ser excluido de um campeonato. Esse vai record demorar para ser quebrado.
Abraços.
Djalma, você, como santista, já deve ter ouvido essa frase: "peixe morre pela boca". O seu único erro ao botar "AS ESTATÍSTICAS", foi colocar a porcentagem.
Sabia que o Michael, pela média, é o 4o? Além do piloto que vou citar, anote dois nomes: ALberto Ascari (ITALIANO, 13 vitórias, 14 poles, 32 GPs 2 títulos, 4 temporadas entre 50 e 54) e Jim Clark (escocês, 25 vitórias, 33 poles, 72 GPs e 2 títulos, 7 temporadas entre 60 e 68).
Segura lá:
Juan Manuel Fangio
Número de corridas: 51
Número de vitórias: 24 (47,1%)
Total de pontos: 303 (média de 5,94 por GP)
Pódios: 35 (68,3%)
Pole positions: 29 (56,8%)
Melhores voltas: 23 (45,1%)
Vitórias na mesma temporada: 6 (em 1956) em 8 GPs, ou seja, 75% de vitórias.
Títulos: 5, em 7 temporadas, ou seja, 71,43%
tá bom?
depois eu mostro outros factos.
abraços
isso mesmo, William.
e tem o recorde de carro sem quebrar entre França 2000 e Japão 2006.
Será que isso não influenciou?
Kimi "quebra tudo" Raikkonen só perdeu 2003 por isso.
Pô, Djalma!
ele levou todo o staff da Benetton, mas isso é mérito dele?
A equipe começou a melhor quando os "Camaradas" vieram, e por que essa melhora significa que o cara "Topou" desafio/
essa do cachorro com lingüiça é dose. me mostre um argumento sólido para isso? lembremos que essa frase foi criada por felipão, para falar de pelé, garrincha, nilton santos, didi, djalma santos, ademir da guia e outros dos melhores da história.
outro recorde do alemão:
piloto que mais "recebeu" corridas:
Austrália, 2000 (venceu)
Canadá, 2000 (venceu)
Áustria, 2001 (segundo)
Áustria, 2002 (venceu)
Brasil, 2002 (venceu)
França, 2002 (venceu)
EUA, 2004 (venceu)
EUA, 2005 (venceu)
Mônaco, 2005. (foi sétimo)
piloto que mais "Tirou" ou tentou tirar adversários da pista:
Austrália, 94
Europa, 97
Canadá, 98
Argentina, 98
França, 2000
Mônaco, 2006 (não é bem tirar da pista, desculpe...)
lembremos que em 96 a ferrari foi "o Ó", e em 97, quando TODO MUNDO veio, melhorou...
Irvine quase levou o ´titulo em 1999, ora essa.
Pelo que eu sei o site é sobre F1 , outra coisa muito importante colocar ESTATÍSTICAS EM CIMA DOS PILOTOS QUE EU CITEI (falhos de categoria , diga-se de passagem) e não sobre alguns do tempo que andar a cavalo era mais rápido(nenhum possui 7 títulos)...
--> não seria melhor: nenhum tem 16 temporadas?
Fangio correu 7 campeonatos, ganhou 5 e foi duas vezes vice.
acho que deu, né?
tinha gente reclamando das comparações com 2007, e vem falar de antes?
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