sexta-feira, 6 de março de 2009

Especial - Rubens Barrichello

Em homenagem à confirmação de Rubens Barrichello na Fórmula pela 17ª temporada, republicamos aqui um material que foi postado em maio de 2008, quando Rubens superou o recorde de Riccardo Patrese.
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A Marca

Nesse final de semana, em Istambul, Turquia, Rubens Gonçalves Barrichello, o Rubinho, chegou à incrível marca de 257 Grandes Prêmios disputados na Fórmula 1. Embora sua contagem seja “à moda Romário” (a FIA considera a etapa turca como sendo a 254ª de Barrichello), maior que o recorde em si é o feito. O quadro abaixo mostra que esse é um dos poucos recordes que o Brasil ainda possui na categoria:

Recordes do Brasil na Fórmula 1

GPs Disputados: Rubens Barrichello, 257 / Mais próximo: Ricardo Patrese, 256
Vitórias de Ponta-a-Ponta: Ayrton Senna, 19 / Mais próximo: Jim Clark, 13
Poles Consecutivas: Ayrton Senna, 8 / Mais próximo: Alain Prost, 7
Vitórias consecutivas num mesmo GP: Ayrton Senna, 5 em Mônaco / Mais próximos: Michael Schumacher (nos EUA), Juan Manuel Fangio (na Argentina), Ayrton Senna (na Bélgica) e Jim Clark (na Bélgica e na Inglaterra), todos ganhando 4 vezes seguidas.
1ª Filas consecutivas: Ayrton Senna, 24 / Mais Próximo: Damon Hill, 17
Poles consecutivas num mesmo GP: Ayrton Senna, 7 em San Marino / Mais Próximo: Michael Schumacher, 5 no Japão


Recordes Divididos
Poles num mesmo GP: 8 (Ayrton Senna em San Marino e Michael Schumacher no Japão)
1ª Filas numa só temporada: 16 (Ayrton Senna, em 1989, Damon Hill, em 96, e Alain Prost, em 93).

Só que, ao invés de causar orgulho, esse recorde traz vergonha para muitos: consideram vexatório um piloto com “tantas corridas” ter ganho “tão pouco”. Ninguém dá a mínima. E o motivo é somente um: Barrichello nunca foi campeão mundial. Assim, a célebre frase de Ayrton Senna (“brasileiro só aceita título de campeão, e eu sou brasileiro”), totalmente distorcida do seu contexto original, virou uma espécie de bandeira dos críticos do piloto.

Olhando para o que acontece com Barrichello nas terras tupiniquins, somos levados às lembranças de Emerson Fittipaldi que, mesmo sendo bicampeão mundial e mais jovem campeão de todos os tempos na época, tornou-se uma piada nacional quando, junto de seu irmão, montou a Copersucar, até hoje o ÚNICO chassi de Fórmula 1 construído fora da Europa. Mas como Emerson não foi campeão, isso não teve a menor importância...

Outro caso interessante, e que faz mais sentido pelo fato de, como Barrichello, nunca ter conquistado o título mundial, é o do goleiro Moacir Barbosa, da seleção brasileira vice-campeã em 1950. De acordo com o próprio goleiro (que faleceu em 2000), “a pena máxima no Brasil é de 30 anos, mas eu estou pagando muito mais...”. Babosa foi considerado culpado pela derrota, e tudo que conquistara, virou o mesmo que nada.

Assim como Fittipaldi e Barbosa, a carreira de Rubens Barrichello deveria ser muito mais respeitada, e não apenas pelo novo recorde, mas por tudo que conquistou ao longo desses 16 anos em atividade. Aliás, é uma triste contradição ver gente afirmando que Michael Schumacher é o melhor piloto da história da Fórmula 1 e ao mesmo tempo dizendo que Rubens Barrichello é um piloto de baixa qualidade.

“Rubinho” foi, de longe, o melhor companheiro de equipe que Schumacher já teve (com a clara exceção de Piquet, que estava abandonando as pistas quando o alemão começava). Basta dizer que foi o único deles a ter conquistado um vice-campeonato com o alemão disputando todos os GPs da temporada. E isso aconteceu em duas oportunidades. Rubens foi, também, o piloto que mais venceu GPs com Schumy ao lado.

E pode-se dizer que Barrichello foi vital para Schumacher, não apenas por ceder-lhe posições (como veremos depois): No GP do Brasil de 2003, a prova foi interrompida devido a um forte acidente. No momento, Raikkonen liderava, e recebeu o troféu, tudo normal. Uma semana depois, uma revisão da FIA concluiu que o vencedor da prova fora Fisichella pois, quando há paralisação, contam-se as posições de duas voltas antes da paralisação, e o finlandês teve que fazer uma "troca de prêmios" com o italiano.

Schumacher levaria a taça por diferença de dois pontos: 93 a 91. No GP do Japão, última corrida do ano, Michael foi apenas o 8º - largando em 14º - (fez 1 ponto) e Raikkonen foi segundo (8), enquanto que Rubens venceu (10). Uma simples inversão das posições Kimi-Rubens mostra que o finlandês e o alemão terminariam com os mesmos pontos. No entanto, a decisão do campeonato teria sido outra não fosse o “pódio-extra” que inventaram.

Ironicamente, foram justamente os anos na Ferrari que contribuíram decisivamente para destruir a imagem pública de Rubens, no Brasil: as várias quebras de motor, panes secas, e problemas hidráulicos (numa escala MUITO maior que a de Schumacher) e, principalmente, as vezes em que “cedeu” vitórias ou posições intermediárias a Michael, fizeram de Barrichello o eterno “segundão”, quando não o “braço-duro”.

Foi simplesmente inaceitável para os brasileiros ver aquele piloto que colocou sobre si a responsabilidade de carregar o nome do Brasil após a morte de Ayrton Senna chegar “sempre atrás” tendo nas mãos um carro “fantástico”. Porém, o que muitos não entendiam, é que de alguma maneira Rubens estava fadado a essas posições, tivesse sua Ferrari a qualidade que fosse, e se esforçasse ele o quanto fosse.

Não se trata de teorias da conspiração do tipo “A Ferrari apertou um botão e o carro dele desligou” ou “cronometraram seu pit-stop para ser meio segundo mais lento que o de Schumacher”, mas sim de atitudes inacreditáveis (dentro e fora da pista). A primeira lembrança, claro, é a da corrida na Áustria, em 2002, quando Barrichello simplesmente “tirou o pé” para o alemão passar na última volta. Mas aconteceram coisas piores...

Na mesma pista austríaca, um ano antes, Rubens abrira mão de um segundo lugar para que Schumy (3º) marcasse mais dois pontos no certame; Na Austrália, em 2000, a PRIMEIRA corrida de Rubens na Ferrari, o time lhe arranjou um pit-stop extra pouco antes do final da corrida, quando ele andava em 1º; No Canadá, no mesmo ano, Schumacher estava em primeiro com problemas no carro, e a Ferrari ordenou que Rubens não o “atacasse”.

Porém, de acordo com o piloto, foi no GP americano de 2005 (aquele, de seis carros...) que ele percebeu que não poderia mais seguir na Ferrari – mesmo seu contrato valendo até o final do ano seguinte. Rubinho afirmou que “O time me pediu que diminuísse meu ritmo para que Michael pudesse chegar mais perto e me passar. Nesse momento, eu sabia que tinha chegado minha hora de sair. A corrida nos EUA foi crucial”.

Mas sem sombra de dúvidas a cena mais ridícula que aconteceu ao longo desses seis anos de Schumacher e Barrcihello como pilotos da Ferrari foi o Grande Prêmio da França de 2002. Naquela corrida, Schumacher poderia ser campeão caso vencesse e Rubens não pontuasse. Coincidentemente, Barrichello não largou ficando com o carro suspenso no ar pelo “macaco”, em plena volta de apresentação!

Já antes de Rubinho a política da Ferrari havia ficado muito clara: em Nürburgring, 1999, a equipe simplesmente “esqueceu” de colocar um pneu no carro de Eddie Irvine, fazendo o piloto perder 48 segundos nos boxes. No final do ano, o irlandês declarou: “não sei se a Ferrari quer ser campeã ou se quer ser campeã com o Schumacher”. É óbvio que Irvine foi demitido e, infelizmente, a segunda opção era a verdadeira.

Mesmo com todos esses problemas e a quase proibição de levar um título, Barrichello conquistou ótimos números com os carros italianos: 2 vice-campeonatos, 9 vitórias, 11 poles e 15 melhores voltas. Além disso, na temporada de 2004 o piloto marcou 114 pontos – mais que o campeão de 2007! –, e subiu ao pódio 14 vezes: é a terceira maior marca (atrás de Schumacher, 2002, e Alonso, 2005) de pódios por temporada na história.

Façamos agora uma ligação com outros grandes números de Barrichello na F-1: em 1994, com uma Jordan, no GP da Bélgica, Rubinho marcou a pole-position: além de ser algo impressionante devido ao equipamento fraquíssimo, Barrichello foi, na época, o mais jovem piloto em todos os tempos a largar em 1º. Esse registro só seria superado por Fernando Alonso, no Grande Prêmio da Hungria de 2003.

E com essa mesma péssima Jordan, Barrichello teve exibições notáveis: a principal delas foi logo na sua terceira corrida, o famoso GP da Europa de 1993. Naquele GP, partindo da 12ª posição, Rubens cruzou a 1ª volta em 4º e chegou a andar em segundo, tendo ULTRAPASSADO as Williams, e se manteve em terceiro até poucas voltas do final, quando seu motor quebrou – de forma irônica, começava ali sua má fama.

Em termos de números absolutos, basta citar que Rubens é o 4º piloto com maior número de pódios na história: atrás de quem? Ninguém mais, ninguém menos, que Michael Schumacher, Alain Prost e Ayrton Senna!!! É, também, o 5º maior pontuador da categoria, ficando atrás dos mesmo três e também de Coulthard (apenas 8 pontos a mais para o escocês, que estreou direto numa Williams, assumindo o lugar de Ayrton Senna).

Recentemente, na entrevista coletiva para o GP da Espanha (onde Barrichello igualou o recorde de Patrese), Fernando Alonso deu uma declaração muito interessante sobre Barrichello: o espanhol disse que “muitos só se lembram dele na época da Ferrari com o Schumacher e das derrotas, mas eu prefiro recordá-lo no carro branco da Stewart”.

E é uma lembrança que nos faz perceber o talento de Barrichello: Rubens não chegou a vencer GPs, mas marcou uma pole e subiu várias vezes ao pódio, tendo um equipamento que, com muito esforço, era o 5º do grid. Uma das cenas marcantes foi o “X” que o piloto deu em Schumacher, na França-99, uma das mais belas ultrapassagens do ano – que, dizem, foi o momento de sua contratação.


Certamente, a carreira de Barrichello foi prejudicada por escolhas erradas: “o carro certo na hora errada” e vice-versa. Recusou, por exemplo, um convite da McLaren em 1995, preferindo permanecer na Jordan. De fato, a McLaren andou mal naquele e no próximo ano, mas era um projeto a longo prazo que renderia o bicampeonato a Mika Häkkinen.

Quando ele teve um carro “de ponta” nas mãos, a gente sabe o que aconteceu... Mas o que deve ficar marcado na carreira de Barrichello são seus grandes momentos na Fórmula 1, e não o momento atual. Devemos lembrar, mesmo, é de sua magnífica vitória em Silverstone, no ano de 2003, onde realizou "uma verdadeira obra-prima, uma das mais belas corridas dos últimos 15 anos". Ah, essa frase é de Jackie Stewart.

8 comentários:

Anônimo disse...

COm toda certeza Rubens foi um grandioso piloto, e que teve um grande potencial para ser campeão nos anos de Ferrari, uma pena que as possibilidades não existiram.
No entanto, como disse Fernando Alonso, devemos lembrar deste piloto brasileiro em seus melhores momentos na Stewart, quando levou o carro branco a seus melhores momentos na F1.

A ultrapassagem X sobre Schumacher é no mínimo espetacular. Note que Rubens adotou a linha DE FORA para fazer a freada, deixando a parte interna para o alemão da Ferrari, que obviamente espalhou o carro após a tangência da curva. Controle total da corrida por parte de Rubens.

Acredito que não há melhor imagem para definir as preferências da Ferrari como a do carro de Rubens suspenso por cavaletes no grid de largada. Some-se a isso o episódio da "roda fantasma" no pitstop de Irvine na disputa do título de 99 e conclua como quiser.

Grande texto para homenagear um grande piloto.

Unknown disse...

Grande homenagem em forma de números e fatos... o rubinho sempre lutou muito para conquistar um mínimo de respeito do povo brasileiro, basta observar o vídeo de sua primeira vitória na formula 1, de forma brilhante na alemanha (a casa de Schumacher!), e observar a emoção que o mesmo carregou ao pódio junto à bandeira do brasil. Grande acertador de carros (fato que poucos sabem), teve inclusive algumaS vezES suas Ferrari milimetricamente acertadas solenemente entregues a Schumacher antes da corrida. Brilhou com a Stewart, mostrando ao mundo o arrojo dos pilotos brasileiros, e para aqueles que dizem que Rubinho sempre foi um azarado, vai aí uma frase do próprio rubinho, em entrevista à apresentadora Marília Gabriela, quando perguntando se ele se considerava azarado (na época, estava na Ferrari): "Azarado eu? Correndo na melhor equipe do mundo na principal categoria do automobilismo, ganhando o salário que eu ganho, eu acho que não..."
Parabéns, Rubinho!

Anônimo disse...

Muita pagação de pau atoa...


Se o barrichello tivesse culhões e quisesse ganhar o título mesmo, sairia da ferrari.

Ainda bem que o alonso, quando saiu da McLaren, mostrou como é ser homem de verdade.

Unknown disse...

Ao anônimo: cara, realmente o Alonso foi firmeza nesse sentido, saiu da McLaren pois viu que foi humilhado. Analisando friamente, é a postura de homem, sim. Mas tem um detalhe: o Alonso já era um bicampeão mundial quando tudo ocorreu, e ele tem um patrocínio próprio fudido, que ele leva aonde quiser, e ainda é relativamente novo, podendo ir até para a Ferrari algum dia, fora toda a moral de campeão que ele carrega. Aliás, foi com essa moral que ele conseguiu com que, quando saiu da McLaren, a galera ficasse com nojo da McLaren, e não decepcionada com ele. Agora pensa o lado do Rubinho cara: se ele quebra o contrato com a Ferrari, largava o que seria talvez a única oportunidade da vida de correr num time de ponta, aquele sonho de criança, já que o mesmo nunca houvera sido campeão como Alonso, e não tem a moral dele pra levar grana pra outra equipe de ponta. Pelo contrário, eu acho que, se ele saísse da Ferrari já no início querendo boquejar que foi humilhado, o Todt, e também com certeza o Schumacher, iam despejar tanta merda na imprensa contra ele que, coitado, talvez nem em outra equipe ele se firmaria mais.

Anônimo disse...

Vi hoje a entrevista do rubinho no jornal nacional (06/03).

Deu pra perceber que ele está motivado, disse ainda que "o melhor está por vir", resta esperar e ver o que acontece, creio que esse melhor talavez seja do máximo uma vitória, a não ser que Ross Brawn traga a Ferrari para sua equipe, daí sim o melhor poderia ser o título.

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Henrique, se ele saísse da ferrari duvido se uma McLaren ou Willians não ia querer contratá-lo, imagina os "segredos" que ele não passaria para o lado de lá, logo na época que a ferrari era insuperável...



a propósito, o anonimo era eu...

speed disse...

barrichello é um grande piloto,espero que com a Brawn GP ele possa ter melhores resultados do que teve com a Honda.