No entanto, apesar do(s) excelente(s) predicado(s), Gomes sofre de um mal comum: uma excessiva implicância com Rubens Barrichello, movida não se sabe porquê. Talvez por Rubinho nunca ter sido campeão mundial? Quem sabe. Porque ele "se vendeu" p'ra Ferrari? Não. Disso ele não pode ser acusado, pois é um dos poucos jornalistas brasileiros a afirmar que Michael Schumacher é o melhor de todos os tempos... Talvez o excesso de "reclamações", o "se fazer de vítima", etc, de Rubens? Pode ser que isso explique. Simpatia é opção.
Mas vamos nos ater à frase e não ao autor, até porque, certamente, esse pensamento deve permear 90% dos que assistem Fórmula 1 no Brasil: os da camisa da seleção brasileira. "Barrichello nunca passou Schumacher no campeonato". E por quê? "Por falta de capacidade", devem pensar. Mas a história não é bem assim... Em dois campeonatos, Rubens chegou a estar na frente de Schumacher na tabela: em 2003 e em 2005.
O ano de 2003, segundo ele mesmo, foi o melhor ano de Barrichello na Fórmula 1: embora não tenha sido vice-campeão, como em 2002 e 2004, sua performance foi a que mais impressionou: ele marcou o mesmo número de pódios de Schumacher, 8 (como veremos, teria sido 10 a 8 para Rubinho...); foi quando mais largou à frente de Schumacher: 6 vezes contra 10 do alemão. No total, pela primeira e única vez a soma dos tempos de Barrichello foi mais rápida que a de Schumacher: -0.122 segundos. E mais: ele obteve uma menor "posição média": somando todas as posições de largada e dividindo pelo número de corridas, Barrichello anotou 3.625; Schumacher, 4.25
Some-se a isso a extraordinária performance do GP da Inglaterra - dita por Jackie Stewart uma das melhores corridas de um piloto de F1 nos últimos 15 anos -, além da vitória no Japão, que garantiu o título de construtores e o de pilotos à equipe Ferrari, e temos aí o porquê de Rubens considerar esse seu melhor ano na Fórmula 1. E, para coroar isso tudo, temos a primeira vez que o brasileiro esteve à frente do alemão na tabela: Na primeira corrida do ano, Schumacher foi o 4º colocado, Rubens, sofreu um acidente. No entanto, no segundo GP, Barrichello foi segundo colocado, Schumacher, apenas sexto. Na soma, ambos tinham 8 pontos, mas Rubens tinha um pódio, e ficou a frente na classificação geral, pela primeira vez em 4 anos.
Na etapa seguinte... Grande Prêmio do Brasil. Rubens Barrichello marcou a pole. Michael, largou apenas em sétimo. Rubens partiu à frente, e Schumacher abandonou na volta 26, COMETENDO UM ERRO. Barrichello dominava com autoridade, e tinha uma vantagem segura quando, na 46ª volta, abandonou... devido a UMA PANE SECA. Detalhe melhor ainda: Rubens anotou a volta mais rápida do GP na volta ANTERIOR... É possível crer nisso? Pane Seca? Falta de gasolina numa época com reabastecimento? Telemetria avançadíssima? No GP de casa? Como explicar isso?... impossível.
A explicação melhor é essa: Rubens chegaria a 18 pontos, e abriria 10 de distância para Schumacher. Nas três etapas seguintes, tivemos resultado igual: Schumacher venceu todas, e Barrichello terminou as três na terceira colocação. Isso significa que Rubens esteve em dois GPs a frente de Michael na tabela. No entanto, com aquela vitória no Brasil, Schumacher só superaria Rubinho na 6ª corrida do ano, e ainda assim por meros dois pontos. Crível?...
O carro de uma pane seca na vitória certeira da Terra Natal, foi o mesmo que, no GP da Hungria, viu uma suspensão se quebrar e voar. Barrichello vinha em terceiro naquele GP. Schumacher, que não marcaria pontos, foi o oitavo, tomando uma volta de Alonso em sua primeira vitória. Não podemos dizer que a Ferrari mexeu no carro de Rubens, para que ele quebrasse. Mas podemos falar da impáfia da equipe, ao humilhar Rubens em público e insultar a inteligência dos tele-espectadores. Pois, nas explicações oficiais sobre o incidente, a equipe disse que "o acidente aconteceu por Rubens atacou demais as zebras do circuito (sic)".
Não é preciso dizer mais nada. Vejamos o vídeo:
Pulamos agora dois anos, e chegamos a 2005:
Mais uma vez, Rubens consegue largar à frente de Schumacher várias vezes: foi um total de 7, contra 12 do tedesco. E Barrichello também esteve a sua frente na tabela: do 1º ao 4º GPs. Na etapa inaugural, o brasileiro marcou um ótimo segundo lugar, enquanto que Schumacher abandonou - não, não foi falha mecânica! Na corrida seguinte, Michael terminou em 7º lugar, com Rubens abandonando. 8 a 2 para Barrichello, placar que se manteve na 3ª corrida, onde ambos não completaram.
Na 4ª, o alemão foi segundo, naquela vitória genial de Alonso, segurando os ataques do alemão por umas vinte voltas. Schumacher foi a 10 pontos, e passou Rubens - que abandonou, de novo -, que mantinha os 8 pontos, para não mais perder a primeira posição. Porém, a história mostra que não foi bem assim...
Na 5ª corrida, ambos abandonaram. No entanto, a sexta foi o GP de Mônaco. Naquela corrida, as Ferraris vinham numa performance terrível, e o máximo que poderiam almejar seria o final da zona de pontuação. E foi o que aconteceu. Michael e Rubens conseguiram miseráveis 3 pontos para a equipe, com a 7ª e a 8ª colocações. Com isso, Schumacher foi a 12 pontos, e Barrichello ficou com 9. O video a seguir mostra como isso aconteceu:
Assim como os narradores da TV inglesa, todo mundo que assistiu à corrida e, no final, viu que Schumacher terminou à frente de Barrichello, se surpreendeu. O que ocorreu foi que, na última volta, a poucas curvas do final, Schumacher ultrapassou Barrichello. É possível ver, no replay, que o brasileiro não esboça nenhuma reação. Segundo ele mesmo já disse, "quando eu estava em primeiro e ele em segundo, e me pediam para deixá-lo passar, eu até entendia. Mas em 2005 não tínhamos carro para vencer, e eles ainda queriam que ele me passasse. Quando você percebe que não querem que você chegue nem em sétimo, é hora de ir embora".
Depois do GP de Mônaco, fomos para Nürburgring: Barrichello marcou um terceiro lugar, somando seis pontos; Schumacher foi quinto, marcando mais quatro pontos. Na soma, Rubens, que tinha 9, foi a 15, o melhor da história foi a 16. Vamos lembrar de Mônaco? Sem aquela falcatrua, a tabela seguiria 16 a 15... mas para Rubens. É mole? É mole, mas sobe!
A corrida seguinte foi no Canadá: lá, Schumy soi segundo, logo à frente de Barrichello. O allemão foi a 24, Rubens chegou a 21 (na verdade, 23 a 22). E, depois... fomos para os Estados Unidos. A lendária corrida dos seis carros, sendo que quatro eram Jordans e Minardis; logo, só havia Michael Schumacher e Rubens Barrichello na pista.
Aquela era a única possibilidade de a Ferrari vencer uma corrida. Schumacher, largando na frente, manteve a primeira posição, mas logo Barrichello passou-o. Feito o primeiro pit-stop, Barrichello retorna à frente de Michael, e segue andando muito mais, com uma distância média de 2 segundos. No segundo pit-stop, Barrichello aponta novamente à frente, mas algo de estranho acontece... No final, Schumacher somou mais 1o pontos, e Rubens 8: Michael foi a 34, e Barrichello a 29. Mas, nós sabemos, o placar real era 32 a 31 para... Rubens Barrichello!
O video a seguir mostra uma conversa via rádio da equipe Ferrari com Michael Schumacher naquele GP. Reparem no riso dos narradores ao ver que a equipe disse a Schumacher, que andava em segundo, "não terá problemas para vencer"...
Como vimos aqui, Barrichello esteve à frente de Schumacher em dois campeonatos diferentes, por duas corridas no primeiro, e três no segundo. No entanto, não fosse pela Ferrari, ele teria ficado à frente de Michael pelo menos duas corridas a mais em cada campeonato, totalizando 9 corridas. Entretanto, e talvez seja nisso que Gomes se apoiou para proferir a frase, mesmo quando esteve à frente de Schumacher, Rubens não chegou a liderar o campeonato.
Em 2003, Kimi Räikkönen, na McLaren, somava 24 pontos após o GP do Brasil. Rubens, mesmo com a vitória, não conseguiria suuperá-lo. Em 2005, para se ter uma idéia, ao fim da 4a corrida Alonso somava 36 pontos. Schumacher chegou a 34 após a 9ª etapa!
Mas, para isso, vamos remontar ao GP da Austrália de 2000, a primeira (PRI-MEI-RA) corrida de Rubens Barrichello pela Ferrari. Schumacher fez a pole, e Barrichello o segundo tempo. Na corrida, o brasileiro voava, fato que lhe proporcionou a volta mais rápida do GP. O brasileiro estava à frente de Schumacher quando, faltando menos de 10 voltas para o fim, a equipe o chama para os boxes. Daquele jeito, Schumacher venceu, passou a liderar o mundial.
Seguramente, teríamos ouvido naquele março de 2000 a frase "depois de sete anos, um brasileiro lidera o mundial". Felipe Massa, no último domingo, igualou o feito de Barrichello e, 8 anos depois, "um brasileiro lidera o mundial.
É importante lembrar que, quando assinou com a Ferrari, o contrato de Rubens era pelas temporadas de 2000 e 2001. No final do segundo ano, ele renovou para 2002. Ao fim daquele ano, a equipe renovou pelos anos de 2003 e 2004. Ao fim deste, renovaram por mais dois anos, 2005 e 2006. Depois dos ocorridos em Mônaco e, principalmente, Indianápolis, Rubens optou pela rescisão. Situações dessa estirpe não poderiam mais continuar.
O video a seguir nos mostra como funcionavam as coisas na Ferrari. Isso aconteceu na Áustria em 2001: Barrichello andava em segundo, e Schumacher em terceiro. No ano seguinte, nessa mesma pista...
17 comentários:
Infelizmente o que valeu foi o resultado final de cada ano, quem sagrou-se campeão.
E este ano não será diferente, o que vai valer é a classificação após o GP do Brasil. Infelizmente também não adiantará o Felipe ser líder durante tantas corridas se no final o Nakagima for campeão. Os louros da vitória serão do "japa".
Mas é isso, vamos aguardar.
Muito boa a matéria. Saudações.
Esse material é absolutamente fantástico, assim como esse blog, que tenho o prazer de acompanhar.
Nunca cri que Schumacher fosse um piloto genial. Era um bom estrategista, tinha toda uma equipe disposta a fazer tudo por ele e, infelizmente, humilhar o Barrichello.
Abraço e, definitivamente, parabéns pela fantástica visão crítica!
Esse foi o melhor post que li aqui. Excelente!
Vale dizer ainda que em 2003, quando Rubens começou a botar Schumacher no sapato (com o perdão do trocadilho), deram a ele um carro com 15 hp a menos para Monza - pois o brasileiro havia andado mais que o "patrão" nos dois anos anteriores na casa da Ferrari, e voltaria a fazê-lo em 2004. Algo bastante constrangedor, certamente.
Uma única correção: Na Austrália em 2000 Schumacher e Rubens dividiram a segunda fila, e não a primeira. E por mais que a estratégia de três paradas tenha sido ruim para Barrichello em relação a Schumacher, ela serviu para que ele ultrapassasse Frentzen e recuperasse a posição perdida na largada. Acho que aquela parada não foi inventada, embora tenha favorecido Michael num dia em que o brasileiro foi superior.
eahhaehuaehuaehu, Djalma, "O" Fã de Michael Schumacher!
hehuaeuheauhea, claro.
você tocou num ponto certo:
"Ter essa ou aquela preferencia nao muda as coisas , nem a realidade."
abs
na f1 nao existe 'se'
com certeza. mas aqui não estamos lidando com possibilidades, e sim com fatos. coisas reais. imutáveis. quer dizer, modificadas pela ferrari...
ou modificadas por qem comanda isso aqui , parce q estao tentando mudar a cabeça das pessoas ou muito me engano
Excelentíssimo doutor Anônimo...
identifique-se. Pois queremos saber quaisforam as nossas alterações, e certamente o senhor deve conhecer melhor as histórias para falar que modificamos algo.
Eu me retrato publicamente caso o senhor refute algo que disse.
Parabéns pelo blog. muito bem argumentado os textos.
o bolg e de luta livre ou de f1?
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