Quando, em 2003, a FIA mudou o sistema de pontuação (marcariam pontos do primeiro até o oitavo colocado: 10, 8, 6, 5, 4, 3, 2, 1) e limitou as voltas rápidas em treinos, virou moda dizer que “Schumacher dominou a Fórmula 1 a tal ponto que a FIA se obrigou criar novas regras para dar mais ‘graça’ ao campeonato”.
Isso, em parte, é verdade; no entanto, não se trata exclusivamente do domínio de um piloto, mas sim da grande superioridade vista nos Ferrari, especialmente em 2002: naquele ano, foram 15 vitórias da equipe italiana em 17 corridas, sendo 10 vezes 1º e 2º. Marcaram 221 pontos contra 92 da vice-campeã de construtores (Williams).
Nesse mesmo ano, Schumy-Rubens superaram Senna-Prost em dobradinhas, e para quem considera Barrichello um zero à esquerda, basta lembrar que nesse ano o piloto venceu 4 corridas, fez 5 recordes de pista e foi vice-campeão mundial, com 15 pontos a menos que a dupla da Williams somada! Isso sem contar a vitória cedida na Áustria e duas vezes que Barrichello (numa delas largando à frente, e na outra, largando atrás mas chegando em quarto podendo impedir o título de Schumacher naquela corrida) ficou "parado" no grid.
Mas os que tentam engrandecer Schumacher por conta disso, convenientemente esquecem que as regras já sofreram diversas mudanças na história da Fórmula 1 – e nem por isso os pilotos principais das referidas eras são louvados da mesma maneira. Vamos, então, lembrar de duas das mais importantes modificações anteriores ao “pioneirismo” do alemão.
Jack Brabham foi campeão mundial em 1959 de forma relativamente fácil. Até então, a pontuação era a seguinte: do 1º ao 5º, 8, 5, 3, 2, 1, mais um ponto extra para quem marcasse a volta mais rápida da prova. Aí, em 1960, a coisa mudou, sendo abolido o “bônus” da melhor volta, e depois sendo acrescido um ponto a cada piloto colocado nas posições mencionadas, e o sexto também passou a pontuar. Brabham conquistou seu segundo título naquele ano.
Com Senna isso também aconteceu (o que, para muitos, não é interessante lembrar): Até 1990, ano do bi-campeonato, a pontuação era aquela estabelecida no início dos anos 60: 9, 6, 4, 3, 2 e 1. Além disso, só eram contabilizados os 11 melhores resultados de cada piloto na temporada (16 provas), havendo o "descarte". No ano de 1991, as regras mudaram, e a pontuação passou a ser 10, 6, 4, 3, 2 e 1, e sendo abolido o sistema de descartes. E Ayrton Senna foi campeão pela terceira vez.
Outra mudança ocorrida foi sobre a classificação: até 90, o grid de largada era decidido na combinação dos tempos dos treinos de sexta-feira e dos de sábado. Havia, também, uma “pré-classificação” para as equipes ditas menores. Todos sabem do domínio que Senna exercia nos treinos (entre 88 e 90, ele marcou 36 poles em 48 GPs, ou seja: 75%), e a partir de 1991 o sistema passou a ser: treino livre na sexta, e classificação sábado, com máximo de 12 voltas (4 rápidas) por piloto.
Eis a pergunta que não quer calar: A FIA mudou as regras só p’ra impedir o título de Senna ou Brabham? Não. Brabham levou em 1960, e Senna venceu o campeonato de 1991, assim como Schumacher ganharia o de 2003. A pontuação é a mesma para todos e, quando o piloto é realmente bom e tem condições de vencer, vence de qualquer maneira.
Porém, o quê, de alguma forma, os fãs do alemão podem vir a considerar como tendo sido uma "mudança objetivando o final do seu domínio", foi a regra para o uso dos pneus, em 2005: naquele ano, ficou acordado que cada carro só poderia usar um conjunto por corrida. Um regresso no tempo: antes, só havia as trocas, sem reabastecimento. Agora, gasolina à vontade, mas pneus...
A FIA acabou acertando direto naquilo que Senhor Galvão Bueno convencionou chamar de “coelho na cartola”: as famigeradas “voltas rápidas” do alemão, antes de parar nos boxes; agora, Schumacher não tinha mais coelho... muito menos cartola.
No entanto, (e a imagem ao lado mostra isso, no acidente sofrido pro Ralf Schumacher nos treinos de Indy) quem mais “sofreu” com essa mudança não foi o alemão: naquela temporada, de 19 corridas, Schumacher pontuou em 12 delas; Nas outras 7, uma terminou em 10º, e abandonou seis; só que, destes abandonos, apenas um ocorreu em virtude de algum problema com os compostos. Dos outros cinco, três foram em virtude de alguma batida (acidente ou colisão), e duas por erro do piloto.
Assim, depois de 7 títulos, uma temporada medíocre, sem absolutamente nada de expressivo. A única coisa minimamente interessante que Schumacher fez aquele ano foi o seu segundo lugar no GP de San Marino, quando ficou a apenas 0.4s de Alonso, depois de várias voltas grudado no carro do espanhol. Na verdade, ele conquistou uma vitória – largando em 5º, como diz Flavio Gomes –, a mais ridícula de todos os tempos, e ainda por cima foi mais uma das que Barrichello teve de "abrir mão".
Foi uma temporada deprimente, em termos de performance: Schumacher não conseguiu fazer nada além de 5 pódios e 1 pole em 19 GPs. E terminou a temporada em terceiro lugar, apenas dois pontos à frente de um certo Montoya, que ausentou-se de 3 GPs em virtude de um acidente, e quatro à frente de Fisichela: e o mais interessante de se notar é que tanto Fisichela quanto Montoya foram dois dos ausentes no GP que Michael venceu, e haviam conquistado posições à frente do alemão no grid.
Nenhuma proibição de pneus poderia fazer um piloto ter um desempenho tão fraco. Mas, mesmo assim, pode ficar parecendo que, sim, Schumacher foi o primeiro e único piloto a forçar os dirigentes da categoria a tomarem alguma atitude para trazer mais competitividade ao campeonato. Engana-se quem pensa assim: isso aconteceu duas vezes antes. E quem foram as pobres “vítimas”(sic)? Os mesmos Jack Brabham e Ayrton Senna (“não é possível!”).
Com Jack Brabham, houve caso semelhante após o seu segundo título: o motor Climax deseu Cooper, que lhe rendeu os títulos em 1959 e 1960, foi visto como o grande responsável por tais conquistas e, após ganhar 5 corridas em 8 no ano anterior, houve uma limitação às cilindradas do motor (agora passariam a ser 1500). Resultado: Brabham pontuou pouco, num ano dominado pelas Ferrari.
Já no caso de Senna, todo mundo deve se lembrar dele dizendo que “pilotaria até de graça” para a Williams, certo? Pois eu até pagaria para correr num carro que fez de Mansell o campeão do mundo mais antecipado da história, um carro com suspensão ativa, freio ABS, câmbio automático, controle de tração – ufa! – além de um super motor Renault V10.
Em 1993, foi a vez de Prost brincar de vídeo-game e, ao final daquele ano, Senna conseguiu um contrato com a equipe inglesa. Estava tudo pronto... mas a FIA proibiu TODOS os compostos eletrônicos para 1994, e Senna sentiu como se não tivesse mudado de equipe. Além disso, seria liberado o reabastecimento, fazendo o inverso do que aconetceu em 2005, como comentamos anteriormente. Não necessariamente por conta dessas mudanças, mas Senna morreu na pista e não pudemos saber o que faria...
E é bom que lembremos que, em 2006, o sistema de um jogo de pneus por corrida foi abolido, e o esquema de uma volta rápida por piloto em cada treino, também. Logo, Schumacher voltou a competir lá na frente. Mas Alonso, qual Chapolin Colorado, gritou para aqueles que não acreditaram no seu talento que ele não dependia apenas de ter Schumacher “fora de combate”.
5 comentários:
Realmente, virou senso comum falar que a FIA mudou o regulamento em 2005 apenas para acabar com a superioridade de Schumacher. Bem lembrado o fato de Jack BrabHam e Ayrton Senna. Sobre Brabham, realmente os motores Climax que equipavam seu carro eram superiores ao resto do grid, e a mudança de cilindrada foi definitiva para acabar com a superioridade do mesmo. No entanto, lembramos que em 1966 os motores 3.0 litros foram permitidos novamente, e quem foi o campeão da temporada? Construindo o próprio carro? Aos 40 anos de idade? Sir Jack Brabham.
Quanto a Senna, a mudança nos treinos foi feita visando claramente diminuir o domínio do brasileiro sobre as pole positions. Não é preciso dizer que a mudança foi em vão: em 91, Senna venceu o título, batendo a primeira versão do "carro do outro mundo" que seria a Williams de 92.
Michael Schumacher se viu na mesma situação em 2005: o regulamento proposto vinha com o objetivo de lhe tirar sua maior qualidade, as voltas rápidas antes dos pits. Porém, ao contrário dos dois tri-campeões citados, o maior vencedor de corridas de todos os tempos sequer disputou o título da temporada, vencida brilhantemente pelo espanhol Fernando Alonso.
Infelizmente, ou felizmente, números soltos não dizem a verdade sobre nada, e os números de Michael Schumacher fora de contexto valem o mesmo que uma nota de R$2,75.
HEHEHE , ADORO ESSE BLOG , MUITO BOA ESSA ! Parabens !
Em 1994 , pessoal ,me corrijam se eu estiver errado , TODAS as equipes foram proibidas de usar eletrônica , MAS A BENETTON E SCHUMY USAVAM , OU NÃO ?
Adorei a primeira parte do que vem por aí.
abraço a todos .
Sim, Djalma. a Benetton usava (Não, isso é desculpa dos fãs de Senna, o Ayrton morreu tentando superar o Schumacher, haehuhuhuuha).
Foram inúmeras as irregularidades e elas foram COMPROVADAS. basta dizer, por exemplo, que quando MS foi suspenso por duas corridas, a Benetton fez umcarro NOVO para opiloto substituto do "piloto que matou Senna".
Permanece um mistério o que aconteceu no verão (pra nós, pra eles era inverno) entre 1993 e 1994, para fazer com que Schumacher, que correu 93 COM O MESMO MOTOR - numa versão mais avançada - DE SENNA ter vencido 1 corrida contra 5 do brasileiro, de repente, ser TÃO BOM que fez Senna "errar" (RáRáRá!)
Mas isso é mais um mito que vamos derrubar... preparem-se!
Muito ruim o Senna
A mudança de cilindradas do motor na década de 60 foi muito mais grave do que utilizar apenas 1 jogo de pneu em 2005. A superioridade dos motores do carro da Brabham era muito grande frente aos outros, e fez o carro ficar muito ruim para as temporadas seguintes. Como foi bem observado na coluna, a regra dos pneus não tirou o alemão de nenhuma corrida, enquanto que alguns pilotos como Kimi Raikkonen tiveram pneus estourados na última volta!!!
Abraços
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